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VISITA GUIADA: “De Eborae Inquisitione”,
sobre texto original de Vicente Fino
Direcção e encenação | Hugo Miguel Coelho
Consultores | Bruno Lopes, Fernanda Olival CIDEHUS / UE
Consultores | Bruno Lopes, Fernanda Olival CIDEHUS / UE
Músicos | Angela Fortes e Hugo Coelho
Materiais Cénicos | Anabela Calatroia, Sara Tuna
Produção | ExQuorum
Évora (vários locais)
02 Mar 2019 | sab | 11:00
“Passeemos então pelos espaços da Inquisição e atrevamo-nos a conhecer um pouco dessa causa nobre ao serviço da nossa Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana e da Coroa de Portugal!”
Estrutura de promoção artística
fundada em Évora no ano 2000, a ExQuorum ofereceu às gentes da cidade e aos seus muitos visitantes, pelo breve espaço de uma hora, uma viagem pelos
caminhos centrais da Inquisição. Fazendo recuar os participantes a
1536, esta “visita guiada com alguns toques de teatro” recordou as mais de oito milhares e meio de vítimas da Inquisição ao longo
dos 132 anos em que aqui funcionou o Tribunal do Santo Ofício. Época
trágica que pôs em evidência a intolerância da sociedade
portuguesa – nove em cada dez dos sentenciados tinham como “pecado”
o “crime” do judaísmo -, a Inquisição foi, muito
adequadamente, o tema duma Visita Guiada ligando a Praça 1º de
Maio, junto à Igreja de S. Francisco - “que se diz estar por cima
de uma pilha de ossos” -, e o Largo do Conde de Vila Flor, entre o
Museu de Évora e o actual Fórum Eugenio de Almeida, onde o Palácio
da Inquisição funcionou.
Com interpretação de Maria Marrafa e
Vicente de Sá, e acompanhamento musical de Angela
Fortes e Hugo Coelho, o roteiro teatralizado teve por base o diálogo entre um frade jesuíta e uma jovem chamada a depor por “comentar
e ofender uma mulher grávida”, nele se evidenciando uma tortuosa
rede de cumplicidades e denúncias, hipocrisias e injustiças.
Momento particularmente intenso deste percurso, a paragem na
emblemática Praça do Giraldo serviu de pretexto para evocar o local
onde as sentenças eram conhecidas e “lidas as penas”. Era uma
festa, à qual os altos dignitários da cidade e por vezes o próprio
rei assistia, e que culminava na retratação pública, nos açoites,
nas deportações para os lugares mais longínquos do reino ou, nos
casos mais graves, na queima dos réus numa fogueira.
Recorrendo à representação teatral,
às maquetas e ao teatro de marionetas – num dispositivo cénico
muito simples mas tremendamente eficaz -, Maria Marrafa e Vicente de
Sá fizeram-nos pisar as pedras de uma procissão possível. “De
Eborae Inquisitione” constituiu, assim, uma visita aos espaços e à
história, através da qual se ressalvou a importância de preservar
a memória “num momento em que as liberdades democráticas
(individuais, sociais e colectivas) têm vindo a ser, cada vez mais,
debatidas e colocadas em causa.” De parabéns está a ExQuorum pela forma como, através da criação artística, soube potenciar dinâmicas de reflexão próprias das sociedades democráticas, assim como pelo magnífico contributo dado no sentido de recuperar um legado histórico que nos embaraça e envergonha mas que, por isso mesmo, não pode cair no esquecimento.
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