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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Ley de
Vida”,
de Miguel Vieira Pinto
Centro de Artes de Ovar
23 Mar > 31 Ago 2019
Atentando no título desta exposição,
acorre-nos de imediato à ideia a frase “é a lei da vida”,
proferida as mais das vezes sem reflectirmos nos dramas que se
escondem por detrás de vidas que denodadamente procuram manter-se à
tona no lodaçal da existência. Dizemos “é a lei da vida” perante algo
que admitimos como inevitável, os factos consumados contra a própria
vontade, o destino invocado sempre que algo acontece, apenas porque sim. E aceitamos sem reservas a nota de conformismo que a expressão encerra e que, afinal, não passa de um subterfúgio para nos desobrigarmos de nós próprios, olvidando todos quantos se revelam impotentes para contrariar essa outra convenção que designamos de “má sorte”.
Na relação de poderes socialmente
estabelecidos, “os pobres serão sempre pobres e os ricos sempre
ricos” e isso assumimos como sendo a “lei da vida”. Talvez por
este motivo seja tão importante determo-nos nesta exposição de
fotografia de Miguel Vieira Pinto, porquanto ela nos faz sentir o muito de errado que há nisto tudo. Patente desde o
passado dia 23 de Março no Centro de Artes de Ovar, “Ley de Vida”
dá a conhecer, através da fotografia, da escrita e da memória, um
pouco do viver das comunidades ciganas do concelho de Ovar, aqui
estabelecidas há mais de quatro décadas. Este é o resultado de um
projecto documental iniciado em 2012 e que levou o fotógrafo a conviver de perto com pessoas de etnia cigana e a descobrir um
quotidiano marcado pela exclusão, a recolher histórias e memórias
que falam de fragilidades e incertezas, a escutar sonhos povoados de
inocência e a perceber, em toda a sua dimensão, o peso da
indiferença e do preconceito.
Ao expor de forma crua, ante o olhar
do espectador, comunidades que vivem nas margens da sociedade, Miguel
Vieira Pinto lembra-nos o quão longe estamos duma realidade que nos
é, afinal, tão próxima, mas que reiteradamente negamos. Embora fazendo parte
deste nosso Portugal, os ciganos continuam a ser discriminados na
escola, estigmatizados na hora de procurar emprego, segregados na forma
como lhes é negado o direito a uma habitação condigna ou a cuidados de saúde e tratados
como portugueses de segunda ou de terceira. É isso que as
fotografias de Miguel Vieira Pinto deixam adivinhar e que os cadernos
onde se guardam os sonhos – do ser “árbitro” ou “camionista”,
“cabeleireira” ou “futebolista do Benfica” - apenas comprovam. Sob a calma aparente daqueles rostos, há gritos surdos de dor e de revolta, que não temos como não ouvir!
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