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quinta-feira, 28 de março de 2019

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Ley de Vida"


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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Ley de Vida”,
de Miguel Vieira Pinto
Centro de Artes de Ovar
23 Mar > 31 Ago 2019


Atentando no título desta exposição, acorre-nos de imediato à ideia a frase “é a lei da vida”, proferida as mais das vezes sem reflectirmos nos dramas que se escondem por detrás de vidas que denodadamente procuram manter-se à tona no lodaçal da existência. Dizemos “é a lei da vida” perante algo que admitimos como inevitável, os factos consumados contra a própria vontade, o destino invocado sempre que algo acontece, apenas porque sim. E aceitamos sem reservas a nota de conformismo que a expressão encerra e que, afinal, não passa de um subterfúgio para nos desobrigarmos de nós próprios, olvidando todos quantos se revelam impotentes para contrariar essa outra convenção que designamos de “má sorte”.

Na relação de poderes socialmente estabelecidos, “os pobres serão sempre pobres e os ricos sempre ricos” e isso assumimos como sendo a “lei da vida”. Talvez por este motivo seja tão importante determo-nos nesta exposição de fotografia de Miguel Vieira Pinto, porquanto ela nos faz sentir o muito de errado que há nisto tudo. Patente desde o passado dia 23 de Março no Centro de Artes de Ovar, “Ley de Vida” dá a conhecer, através da fotografia, da escrita e da memória, um pouco do viver das comunidades ciganas do concelho de Ovar, aqui estabelecidas há mais de quatro décadas. Este é o resultado de um projecto documental iniciado em 2012 e que levou o fotógrafo a conviver de perto com pessoas de etnia cigana e a descobrir um quotidiano marcado pela exclusão, a recolher histórias e memórias que falam de fragilidades e incertezas, a escutar sonhos povoados de inocência e a perceber, em toda a sua dimensão, o peso da indiferença e do preconceito.

Ao expor de forma crua, ante o olhar do espectador, comunidades que vivem nas margens da sociedade, Miguel Vieira Pinto lembra-nos o quão longe estamos duma realidade que nos é, afinal, tão próxima, mas que reiteradamente negamos. Embora fazendo parte deste nosso Portugal, os ciganos continuam a ser discriminados na escola, estigmatizados na hora de procurar emprego, segregados na forma como lhes é negado o direito a uma habitação condigna ou a cuidados de saúde e tratados como portugueses de segunda ou de terceira. É isso que as fotografias de Miguel Vieira Pinto deixam adivinhar e que os cadernos onde se guardam os sonhos – do ser “árbitro” ou “camionista”, “cabeleireira” ou “futebolista do Benfica” - apenas comprovam. Sob a calma aparente daqueles rostos, há gritos surdos de dor e de revolta, que não temos como não ouvir!

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