CINEMA: “Cafarnaum” /
“Capernaum”
Realização | Nadine Labaki
Argumento | Nadine Labaki, Jihad
Hojeily, Michelle Keserwany
Fotografia | Christopher Aoun
Montagem | Konstantin Bock
Interpretação | Zain Al Rafeea,
Yordanos Shiferaw, Boluwatife Treasure Bankole, Kawsar Al Haddad,
Fadi Yousef, Alaa Chouchnieh
Produção | Michel Merkt, Khaled
Mouzanar
Líbano, França | 2018 | Drama |
126 Minutos | M/12
UCI Arrábida 20 | Sala 7
18 Fev 2019 | seg | 16:05
Todos os filmes de Nadine Labaki
constituem um olhar sobre o multi-facetado Líbano. Quer seja na
belíssima crónica social “Caramel” (2007) ou no grito de
denúncia das tensões religiosas “E Agora, Onde Vamos?” (2011),
a realizadora filma o seu país em toda a sua complexidade. Situado
há longas décadas no cerne de alguns dos maiores conflitos à
escala mundial, este pequeno Estado é hoje um anexo do desastre
sírio, recebendo o embate desmesurado de refugiados a cada dia. Um
drama que potencia os excessos inerentes a todas as grandes
megacidades: os maus tratos na infância, a imigração ilegal, a
miséria extrema, a delinquência, a escravatura ...
No submundo de Beirute, Zain nunca
soube o que era ser criança. Procurando escapar à miséria que
o cerca, parte sem destino acabando por descobrir que a sordidez, o
despudor e a imoralidade estão por todo o lado. Nadine Labaki
observa esta miséria de perto. Durante mais de dois anos, mergulhou
nos bairros de lata de Beirute, testemunhando o destino de muitas
crianças que aqui vivem abandonadas à sua sorte. Em busca de autenticidade, muitos
dos intérpretes de “Cafarnaum” foram recrutados nos locais onde
o próprio filme se desenrola. A história é ficcionada, mas a origem
daquelas pessoas e o seu destino é bem real (uma das
personagens foi mesma presa durante as filmagens por se encontrar na
situação de clandestina e, não fora a intervenção da realizadora, teria acabado por ser deportada).
Impulsionado pelas vivências dos
actores, este drama moderno agarra o espectador pelas tripas desde as
primeiras imagens. Reflexivo e preciso, o filme impõe a força do
documentário mas mantém uma enorme elegância na linha narrativa
que adopta. Inteligentemente construído, o argumento denuncia uma
raiva fria que nunca abandona o olhar do pequeno Zain. Um
olhar atento, através duma lente que acompanha o sujeito em vez de o
espiar, que o respeita em vez de o julgar. Somos então espectadores
cativos e profundamente emocionados com a determinação deste
rapazinho que, do alto dos seus doze anos, se bate como um leão para
salvar a pele e, sobretudo, a dos mais fracos que o rodeiam. Esta
personagem, visceralmente incarnada por um talentoso jovem refugiado
sírio, revela-se brutal na sua verdade, valorizando ainda mais um
produto cinematográfico apurado e sensível. Galardoado com o Prémio
do Júri no 71º Festival de Cannes, “Cafarnaum”, este é um dos
mais extraordinários filmes produzidos em 2018, sendo de visão absolutamente obrigatória!
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