TEATRO: “O Deus da Carnificina”,
de Yasmine Reza
Tradução, versão e encenação |
Diogo Infante
Cenografia e adereços | Catarina
Amaro
Interpretação | Diogo Infante,
Rita Salema, Patrícia Tavares e Pedro Laginha
Produção | Teatro da Trindade,
INATEL e Plano 6
Centro de Artes de Ovar
18 Jan 2019 | sex | 22:00
Dois casais, adultos e aparentemente
civilizados, encontram-se para resolver um incidente protagonizado
pelos seus filhos menores. O que se segue desse sinuoso encontro virá
a revelar o que de mais primário e instintivo habita no ser humano.
A ideia de normalidade que cada uma das pessoas começa por dar de
si, cedo se revelará pouco clara ou linear. Passado o primeiro
embate, o azedume dos diálogos vem ao de cima a par com as
contradições. Da negação à acusação, da provocação à
humilhação, é a figuração da própria natureza humana que se
passeia em palco, as máscaras definitivamente por terra, a
hipocrisia e a autocomplacência a reinarem no campo de batalha da soberba e da pulhice.
Baseado num texto da encenadora e
actriz francesa Yasmine Reza, “O Deus da Carnificina” detalha
cirurgicamente o estado moral da nossa sociedade, evidenciando toda
uma postura relacional que, de forma crescente, acusa o desgaste da urbanidade e se compraz em arrastar pela lama os princípios da civilidade e da educação.
Fica claro que todos somos adeptos do politicamente correcto até ao
momento de lançar mão das armas mais baixas e letais na defesa do
interesse próprio. O sentimento moral do homem mostra-se
suficientemente maleável para acomodar num mesmo espaço interesses
antagónicos. E isto é tão válido para pessoas comuns, que procuram sanar um conflito entre os filhos, como para líderes de países
em vias de começarem novas guerra.
Navegando nas turvas águas da
fragilidade humana, a encenação de Diogo Infante puxa toda uma
discussão ética e política para o lado da comédia.
Desgraçadamente, fá-lo da pior maneira, cedendo ao facilistismo, aligeirando e vulgarizando
os temas tratados, assim caucionando o “grunho” como figura
justificada e aceitável nesta “selva” em que vivemos. Uma sala
inteira a rir e a bater palmas durante hora e meia não é sinónimo
de bom teatro. Receitas de sucesso garantido junto dum público feito
à imagem e à medida da imprensa sensacionalista, dos “reality
shows” e das novelas cor de rosa, o calão, a brejeirice, os trejeitos e as poses são
usados e abusados ao longo da peça, revelando o vazio duma encenação baseada no imediatismo. Cedo se percebe que o valor e
intensidade do texto têm muito pouco a ver com o que os quatro
actores fazem passar em palco. Portanto, nada de pensar, que o importante é rir. E rir muito, que é isso que o povo precisa. Mas rir de quê?
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