TEATRO: “Verdade ou Consequência”
Direcção Artística | Gonçalo
Amorim
Dramaturgia, pesquisa e criação |
Catarina Barros, Gonçalo Amorim, Marta Bernardes, Rui Pina Coelho
Direcção plástica| Catarina
Barros
Artistas-performers | Nils Meisel,
Joana Mesquita, Marta Bernardes, Patrícia Gonçalves, Catarina
Barros, Tânia Dinis, Susana Paixão, Gonçalo Amorim, Paulo Mota,
Pedro André, Daniel Seabra, Camila Muñoz
Produção | Teatro Experimental do
Porto, TNSJ
Teatro Nacional S. João | 80
minutos | M/12
12 Dez 2018 | qua | 19:00
Verdade E Consequência! No princípio
há aquela disposição dos lugares no centro da sala, a aleatoriedade dos números, a sua
eventual desadequação em relação ao lugar onde decorre
momentaneamente a acção. Perceberemos rapidamente que este
artifício cénico não é um mero capricho do encenador, antes a
primeira verdade da peça. Através dele somos obrigados a sentar num
lugar que não aquele que seria suposto, enfrentamos o incómodo de
termos de nos levantar ou deslocar para melhor apreciarmos a acção,
sentimos o desconforto de acompanharmos a turba no aplauso
injustificado, na interjeição despropositada, no “passeio dos
tristes” que nada diz, nada acrescenta. Consequentemente, pede-se
ao espectador que invista o seu tempo e os seus recursos numa
realidade com a qual acabará por se identificar, por muitas reservas
e distância que queira marcar. Pede-se que olhe à sua volta e perceba o quanto de verdade há numa sociedade
em profunda mutação. E quais as consequências sobre o próprio eu.
E eis-nos chegados ao cerne duma peça
que se desenvolve como se de um jogo se tratasse, “um espectáculo
em doze versos, um bolo em doze fatias”. Pequenos palcos para
representações isoladas, os doze espaços em torno dos espectadores
vão sendo ocupados, espelhando a futilidade de comportamentos e gestos, o vazio das
acções que arrastam meio mundo, a idolatria e a alienação. Nesta
roda da fortuna, tiro de partida de uma maratona de proporções
inimagináveis e onde a maioria é obrigada a alinhar, “os
cavalos também se abatem”. Lutar contra a corrente é sempre um
acto isolado e que resulta numa estéril pregação no deserto
(extraordinário o monólogo da actriz que “nada sabe”). No
final, verdade e consequência resultarão numa e na mesma coisa, tal como a história do homem que está seguro que ao chegar a casa terá uma
festa surpresa à sua espera e, pondo a chave à porta, descobre que afinal não há
surpresa nenhuma e isso deixa-o... surpreendido!
Concluo dizendo que a verdade é que,
no decorrer da peça, se revelou inglório o meu esforço para me agarrar a
algo que fizesse sentido, que não vi grande mérito no trabalho dos
actores (à excepção do já referido monólogo e que resulta num extraordinário momento de teatro), que no final não
reagi com as habituais palmas e que saí do teatro sem olhar para
trás e com a firme intenção de esquecer rapidamente um momento
que, pensei eu, me tinha trazido mais insatisfação do que prazer. A consequência é que se
instalou em mim uma tremenda dúvida quanto ao propósito ou à
mensagem da peça e que acabei por me sentir na obrigação de dar dois passos atrás para
melhor perceber se, na verdade, não haveria ali algo que se pudesse
aproveitar. Consequência: Da revisão da matéria dada resulta a
percepção de que há muito de bom numa peça que importa ver sem reservas.
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