VISITA GUIADA: “O Porto
Regenerado”
Orientada por | César Santos Silva
Organizada por | Confraria das Almas
do Corpo Santo de Massarelos
24 Nov 2018 | sab | 10:00
De acordo com os Census 2011, o Porto
foi a capital de distrito com maior quebra da população residente
nos últimos 35 anos, passando das 328.778 pessoas em 1981 para as
233.061 em 2011 e para uma população estimada de pouco mais de 214
mil em Dezembro de 2017. São dados que, se olhados friamente, vêm
contrariar aqueles que apontam o turismo como o grande causador da
debandada, pedindo que se recue aos anos 80 e 90 para se perceber o que mudou na economia portuguesa, a
quantidade gigantesca de negócios que encerraram devido à
proliferação dos centros comerciais, a forma como o património se
degradou e o quanto se agravou o problema da segurança. É verdade
que, a partir do momento em que o conjunto formado pelo Centro
Histórico do Porto, a Ponte Luis I e o Mosteiro da Serra do Pilar
foi classificado como Património Mundial pela UNESCO, a pressão
colocada pelo turismo tem contribuído para acelerar este processo,
aconselhando a olhar o fenómeno à luz duma nova variável cujo
valor se aproxima já dos 4 milhões de hóspedes por ano e
um crescimento percentual sustentado na casa dos dois dígitos.
Porém, não é menos verdade que o Porto está a abandonar,
rapidamente, o seu ar fechado, elistista, burguês e provinciano e
vive hoje dias mais felizes, devolvendo-se ao mundo com um cunho
marcadamente cosmopolita e apresentando-se como um lugar de convívio,
de fraternidade e de liberdade.
Foi ao encontro do fenómeno turístico
e das suas repercussões na imagem do “novo” Porto que a
Confraria das Almas do Corpo Santos de Massarelos propôs, para a
manhã de ontem, uma Visita Guiada conduzida pelo historiador César
Santos Silva e que tomou o nome de “O Porto Regenerado”. Ao longo
de duas horas e meia, os participantes foram convidados a olhar com
atenção os edifícios e equipamentos que integram o coração da
cidade e puderam perceber as enormes transformações sofridas ou em
curso. Não é necessário um grande esforço para ver que as marcas
deste processo estão por todo o lado: Nos bares e cafés que se
estendem para a rua, na oferta de alojamento local em doses
reforçadas, nas ouriversarias que viram casas de chá, nos bancos
que são hoje hotéis, nas outrora fábricas que vão dando lugar a
conjuntos de apartamentos, nas papelarias transformadas em galerias,
nos cafés tradicionais que abrigam novos restaurantes “da moda”
onde a comida de plástico é rainha ou nos belíssimos palacetes que
albergam agora boutiques e lojas de toda a espécie.
Entre o antigo e o novo (ou renovado)
mas sempre atento aos “pormaiores”, o grupo saiu dos Leões rumo à Praça de
Carlos Alberto, seguiu pela Rua das Oliveiras e José Falcão, fez um
pequeno desvio até ao Largo do Moinho de Vento, desceu a Rua da
Fábrica até aos Aliados, cruzou Sampaio Bruno até Sá da Bandeira,
atravessou S. Bento e percorreu a Rua das Flores até concluir esta
visita no Largo de S. Domingos. Viu-se que os afectos ainda marcam a
toponímia da cidade - no Piolho como na Praça de Santa Teresa, nos
Leões como no Túnel de Ceuta - e que as mudanças não destroem o
que a memória conserva. Que locais como o Cinema Lumière, o
“showroom” da Fábrica de Cerâmica das Devesas, o quarteirão do
Conde de Vizela, a Real Fábrica de Tabaco Portuense, o Banco Pinto
de Magalhães ou o Restaurante Regaleira desapareceram, mas não a
sua identidade. Tão pouco as suas histórias, que César Santos
Silva, conversador incansável e profundo conhecedor da cidade, fez
questão de associar aos locais visitados, recordando figuras como as
do Rei Carlos Alberto ou Aurélio da Paz dos Reis, do escultor
Henrique Moreira ou do arquitecto Marques da Silva, de Carlos Alberto
Cabral e Madame Blanche, de D. Maria Borges e de muitos outros.
Paredes entaipadas, andaimes a perder
de vista, empenas escoradas, interiores em profunda remodelação,
tarjas que publicitam lojas e condomínios, reclames de gabinetes de
arquitectura e hostels, montras que anunciam os seus produtos em
várias línguas, alguns “gritos” de resistência e protesto e,
sobretudo, muita gente, rua abaixo, rua acima, gente jovem e
divertida que se exprime em espanhol, francês, inglês, russo,
grego, mandarim ou swahili são as marcas do Porto regenerado. “Para o bem e para o mal”, como referiria, muito a propósito, o Professor César Santos Silva. É este o resumo de mais uma fantástica visita
onde “tudo tem a ver com tudo” e da qual se retira o conselho a
estar atento às marcas e aos efeitos da pequena-grande revolução
que, por estes dias, acontece na cidade do Porto. Mas há mais marcas
e revoluções prometidas para as próximas iniciativas da Confraria
das Almas do Corpo Santo de Massarelos, algumas das quais decorrerão
ainda este ano. Basta estar atento e ir consultando a página
http://confrariacorposantomassarelos.pt/.
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