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domingo, 25 de novembro de 2018

CINEMA: "Não Deixeis Cair em Tentação"



CINEMA: “Não Deixeis Cair em Tentação” / “La Prière”
Realização | Cédric Kahn
Argumento | Fanny Burdino, Samuel Doux, Cédric Kahn
Fotografia | Yves Cape
Montagem | Laure Gardette
Interpretação | Anthony Bajon, Damien Chapelle, Alex Brendemühl, Louise Grinberg, Hanna Schygulla, Antoine Amblard, Maïté Maillé, Colin Bates, David Campagna
Produção | Sylvie Pialat, Benoit Quainon
França | 2018 | Drama | 107 Minutos | M/12
Cinema Dolce Espaço
25 Nov 2018 | dom | 16:00


Na sequência dum enorme susto provocado por uma overdose de heroína, Thomas concorda em receber ajuda num centro de desintoxicação. A princípio, a dificuldade em cumprir as regras estritas da instituição católica, localizada no ambiente austero das montanhas, é tremenda, levando a que a frustração e a raiva tomem conta do jovem e, com elas, o desejo de fugir de regresso à sua cidade natal. Mas o encontro com Sybille, uma jovem arqueóloga, fá-lo-á mudar de ideias a ponto de, com o tempo, Thomas começar a considerar a hipótese de ingressar no Seminário e vir a ser ordenado padre.

Não se afirmando, necessariamente, como um filme religioso, “Não Deixeis Cair em Tentação” debruça-se, de forma clara, sobre as questões da fé. Apesar do ascetismo formal que caracteriza a obra de Cédric Kahn, o realizador francês mostra que sabe organizar-se num campo de acção suficientemente vasto para não fazer do filme um mero repositório de receitas rumo à desintoxicação e à cura. A carga de ambiguidade colocada pelo protagonista em cada palavra, em cada gesto, dá-nos a dimensão desse esforço de dar sentido à vida por intermédio de um lento e doloroso processo de criação de uma nova identidade em plena adolescência. Thomas, o jovem viciado em drogas que transforma miraculosamente a sua raiva incorrigível e silenciosa num mar de paz interior com vista ao sacerdócio, é tudo menos um santo. As múltiplas contradições no seu percurso levantam sérias dúvidas quanto à sinceridade da sua vocação.

Mas o filme propõe igualmente uma reflexão sobre o fenómeno social actual duma comunidade fechada sobre si mesma, efectiva nos seus pressupostos imediatos em virtude duma vigilância apertada e dum reforço do encorajamento enquanto forma de terapia, mas condenada ao fracasso na hora de devolver ao mundo exterior aqueles que acolheu e procurou tratar. Percebe-se um certo fatalismo nesta visão do mundo, onde mesmo os mais exemplares sobreviventes do inferno das drogas se mostram incapazes de conquistar a necessária capacidade de se manter à tona da água no tormentoso caudal da existência. Cédric Kahn não é, realmente, o tipo de apóstolo eufórico que abre novas perspectivas filosóficas através do cinema. A sua abordagem e estilo são demasiado pragmáticos e friamente pensados para negarem a existência de artificialismos que preencham o vazio inerente a cada pessoa e afastar qualquer ilusão numa cura milagrosa desta grande praga civilizacional. “Não Deixeis Cair em Tentação” é isto e é, também, o melhor filme visto até à data em 2018. Absolutamente imperdível!

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