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quinta-feira, 1 de novembro de 2018

CINEMA: "Em Guerra"



CINEMA: “Em Guerra” / “En Guerre”
Realização | Stéphane Brizé
Argumento | Stéphane Brizé e Olivier Gorce
Fotografia | Eric Dumont
Montagem | Anne Klotz
Interpretação | Vincent Lindon, Mélanie Rover, Jacques Borderie, David Rey, Olivier Lemaire, Isabelle Rufin, Bruno Bourthoi
Produção | Philip Boëffard, Christophe Rossignol
França | 2018 | Drama | M/12 | 109 minutos
Cinema Dolce Espaço, Ovar
01 Nov 2018 | qui | 16:00


Um mecanismo essencial do funcionamento bem-sucedido das economias de mercado de base capitalista é o da deslocalização das empresas. Depois de um período de significativa acumulação de capital pelas chamadas indústrias líderes, o nível de lucro entra em derrapagem, tanto pelo enfraquecimento do quase-monopólio da indústria líder, quanto pela subida dos custos do trabalho devido à acção sindical. Sempre que isto acontece, a solução é a “fuga” da fábrica. O local de produção é transferido para alguma outra parte do sistema-mundo que ofereça “níveis salariais historicamente mais baixos”, a oportunidade de trabalhar nestas empresas deslocalizadas representando um crescimento real do rendimento dos novos trabalhadores. Desta forma, os proprietários das fábricas deslocalizadas podem continuar a ver os seus lucros crescerem, chamando-se a isto uma solução de “ganhar-ganhar”.

Nesta solução “milagrosa”, porém, nem tudo são rosas. É isso que “Em Guerra” revela, ao acompanhar o processo de luta de 1100 trabalhadores da Perrin Industrie, uma fábrica de componentes automóveis sedeada em Agen, França, ameaçados de despedimento face a níveis de produtividade abaixo do esperado. Com a administração do grupo a fazer tábua-rasa dos acordos firmados com os trabalhadores, resta a estes partirem para o bloqueio à produção, em defesa dos seus postos de trabalho. Esta é, porém, uma batalha perdida à partida, a própria justiça francesa do lado dos patrões e a divisão entre sindicatos a minar posições que se pedem de força e união.


Bebendo a sua força no realismo das situações, “Em Guerra” afirma-se como um quase documentário ao acompanhar alguns dos momentos-chave de todo o processo, denunciando os mecanismos de poder que se instalam na relação entre patrões e assalariados, bem como no seio dos próprios trabalhadores. Fazendo lembrar os filmes de cariz social assinados por Ken Loach, “Em Guerra” é um objecto cru, os planos a viverem muito da câmara à mão e duma objectiva que prefere distanciar-se da acção, “espreitando-a” duma forma discretamente voyeurista. Mas é também um filme de um actor, no caso Vincent Lindon, que tem aqui uma interpretação absolutamente brilhante no papel do porta-voz dos trabalhadores. Intenso e acutilante, com uma mensagem particularmente actual, este é um daqueles filmes que merecem toda a nossa atenção.

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