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sábado, 3 de novembro de 2018

LIVRO: "A Rebelião"




LIVRO: “A Rebelião”,
de Afonso Valente Batista
Edições Parsifal, Junho de 2018


Mantendo uma dinâmica de escrita notável, Afonso Valente Batista volta a presentear-nos com um novo livro neste ano que corre. Numa ficção que tenta responder à possibilidade de uma nova utopia, o que nos surge em “A Rebelião” são ainda os demónios que resultam das ondas de choque da Guerra de África, sequência de episódios sem nexo que ceifou milhares de vidas em nome dum império que há muito se esgotara. Mas são, sobretudo, as vidas daqueles que tiveram de voltar a acomodar o corpo ao desígnio do regresso, de inventar uma nova vida - “ainda hoje o pudor de dizer, a vergonha de contar, o estigma em recalcar silêncios que nos afogam” - e que nunca deixaram de se sentir injustiçados pelo que foram obrigados a viver e a sofrer, da Pátria não recebendo mais do que o olvido.

“A Rebelião” regressa ao universo tão brilhantemente desenvolvido nos anteriores “O Muro” e “O Acontecimento”, deles recuperando pontas de estórias e uma boa parte das suas personagens. Mas o tempo já não é mais o do africano passamento, de campanhas venturosas e de sofrimentos incógnitos feito, depois desse “para Angola e em força” gritado de forma irrevogável. O tempo é outro, o aqui e agora assente na desilusão crescente face a um tempo que passa e não traz com ele a palavra justiça e numa raiva que, renovando-se a cada dia, acabará por compelir o grupo de veteranos a organizar-se em torno da criação de um movimento político e a partir para a rebelião.

Pontuado por episódios divertidos, onde o regresso aos tempos da juventude e um certo desejo de transgressão se anunciam em cada diálogo, “A Rebelião” revela-se, paradoxalmente, um livro amargo, pelo que de impossibilidade encerra. Às questões sociais, éticas e morais que se colocam como entraves nesta demanda utópica, juntam-se imponderáveis como a própria condição física de cada um, vergado ao peso da idade. Embora Afonso Valente Batista, duma forma extraordinariamente salutar, consiga brincar com as situações, sente-se que continuam a haver nós por desatar, contas por acertar, dilemas por resolver. Que há gritos de liberdade tolhidos na garganta, que apertam e sufocam. Que está por fazer essa rebelião, que nos desperte e que, de uma vez por todas, afaste os nossos olhos daquilo que os continua a manter distraídos!

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