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quinta-feira, 13 de setembro de 2018

EXPOSIÇÃO DE PINTURA: "Contos Tradicionais e Contos de Fadas"


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EXPOSIÇÃO DE PINTURA E DESENHO: “Contos Tradicionais e Contos de Fadas”,
de Paula Rego
Casa das Histórias Paula Rego, Cascais
08 Mai > 30 Set 2018


A pesquisa de Paula Rego sobre o universo literário dos contos populares portugueses inicia-se em 1974, ano em que começa a produzir uma série de ilustrações dedicadas ao tema. São histórias violentas e cruéis e nelas a artista reencontra não só as suas memórias de infância mas também o medo. Através da sua pintura, a artista procurava o confronto com personagens e episódios que a aterrorizavam, tal como declarara no início da sua carreira: “Pinto para dar uma face ao medo”. Em Abril de 1976 candidata-se a uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, propondo-se "ilustrar mais prolificamente os contos tradicionais portugueses ou integrar esses contos eternos na nossa mitologia contemporânea e experiência pessoal através da pintura". Retoma então o experimentalismo formal baseado na composição automática, associando esta experiência criativa ao seu interesse pelo “inconsciente colectivo” de Jung que os próprios contos tradicionais revelam. Desde então, os contos tradicionais e os contos de fadas passam a constituir uma fonte fértil para o trabalho criativo da artista.

A sua abordagem aos contos, território onde o radical e o consensual se encontram onde menos se espera, é marcadamente autoral e muitas vezes auto-referencial e as histórias que se alinham numa estética do fantástico e que exploram as temáticas do encantamento, do amor e da sedução, do poder e da subjugação, do medo e do terror e, sobretudo, da transgressão, deixam de se submeter, nas suas obras, a essas referências exteriores numa delineada estratégia de insubmissão. Os contos, por sua vez, ganham um novo sentido ao articularem-se, na tela ou no papel, com elementos e histórias do universo pessoal da artista. A partir dos anos 1990, as histórias que as obras contam começam a ser encenadas, representadas e reinterpretadas no seu estúdio, um espaço de intimidade onde ganham vida própria através de modelos vivos que seguem as percepções da artista, enriquecendo-as sempre com as suas vivências e as suas próprias versões das histórias. São, por isso, verdadeiros tableaux vivants onde tudo é encenado ao pormenor.

Na sua livre interpretação destas histórias que integram o seu imaginário, Paula Rego reinscreve a voz das mulheres, dominante na tradição oral dos contos de fadas, e recupera também a natureza implacável das narrativas originais. Ela é simultaneamente personagem e narradora destas histórias intemporais, adaptando-as ao seu próprio tempo. Nesse seu contar pela pintura assistimos sempre a um processo de questionamento, mas também de revelação crua e, muitas vezes, brutal da natureza humana e das relações que os humanos estabelecem entre si, sejam elas familiares, amorosas ou políticas. Os contos de fadas servem-lhe para revelar e, sobretudo, desconstruir os modelos de socialização estabelecidos e, mais especificamente, os papéis atribuídos pela sociedade do seu tempo à mulher.


[Texto adaptado do Programa da Exposição, da autoria das curadoras Catarina Alfaro e Leonor de Oliveira]

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