CINEMA: “A Ciambra”
Realização | Jonas Carpignano
Argumento |Jonas Carpignano
Fotografia | Tim Curtin
Montagem |Affonso Gonçalves
Interpretação | Pio Amato, Iolanda
Amato, Koudous Seihon, Damiano Amato, Patrizia Amato, Susanna Amato,
Rocco Amato
Produção | Paolo Carpignano, Jon
Coplon, Christoph Daniel, Gwyn Sannia, Marc Schmidheiny, Rodrigo
Teixeira e Ryan Zacarias
Itália, Estados Unidos, França,
Alemanha | 2017 | Crime, drama| 118 Minutos | M/14
Cinema Dolce Espaço
01 Set 2018 | sab |
18:30
Contrariando a propensão europeia mainstream de
competir com Hollywood em géneros como o thriller ou a comédia, o
cinema italiano continua a ensaiar os mais variados modelos de
recuperação de alguns dos elementos clássicos do neo-realismo, sem
dúvida uma das suas grandes marcas identitárias. Naturalmente, as
comunidades locais deixaram de constituir o foco principal destas
películas, com os refugiados e os sectores marginalizados a serem os
novos protagonistas, neles se condensando o saque do terceiro mundo,
ao longo de séculos, pelos europeus e o momento presente no
qual essa mesma Europa parece estar condenada a pagar por aquilo que
fez.
Como muitas outras obras que fazem o seu olhar recair
sobre as injustiças sociais, a imigração massiva ou a recorrente
segregação de grupos específicos por questões étnicas, raciais,
religiosas ou culturais, “A Ciambra” inspira-se tanto no referido
neo-realismo como no cinema de cunho social britânico, resultando
num filme poderoso e impactante. Aqui, o realizador Jonas Carpignano
constrói uma espécie de “sequela conceptual” da sua obra de
referência, “Mediterranea” (2015), a qual analisava, com um afã
documentarista, os processos de expulsão de que são vítimas os
africanos e, em concreto, uma viagem desde o continente negro até à
Calábria em busca dum futuro melhor, sonho que choca com a violência
e intolerância reinantes em Itália.
Em “A Ciambra”, Carpignano retoma a
personagem de Ayiva (de novo interpretado pelo genial Koudous Seihon,
do Burkina Faso), transformando-a numa figura secundária no interior
da história de Pio (Pio Amato), um rapaz cigano de 14 anos que vive
no gueto que dá título ao filme, uma comunidade paupérrima da
Calábria que olha os italianos com desconfiança – em particular a
polícia – e que despreza os imigrantes africanos em geral.
Lançado, desde muito cedo, no mundo do crime, Pio mostra que nada há
mais importante do que conseguir dinheiro, seja de que maneira for,
ao mesmo tempo que se vai afirmando perante a sua comunidade como
alguém que já não é uma criança.
Baseando-se numa família real composta
por actores não profissionais, o realizador descreve, com a câmera
à mão e numerosos primeiros planos, o estilo de vida delinquente de
Pio e a sua amizade com Ayiva, agora mais um num acampamento africano
que procura escapar à aversão e à miséria. “A Ciambra” adopta
a mesma perspectiva – humanista, rigorosa e muito sincera – de
“Mediterrânea”, enfatizando a ideia de que há marginalizados
dentro dos marginalizados. Carpignano consegue ainda tirar o melhor
proveito das qualidades de representação de Pio e da sua família,
oferecendo-nos um excelente retrato da cosmovisão cigana do “nós
contra o mundo” e a perda dos rasgos nómadas deste povo, no filme
representados por um cavalo misterioso e errante…
Sem comentários:
Enviar um comentário