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domingo, 24 de junho de 2018

CINEMA: "Colo"



CINEMA: “Colo”
Realização | Teresa Villaverde
Argumento | Teresa Villaverde
Fotografia |Acácio de Almeida
Montagem | Rodolphe Molla
Interpretação | João Pedro Vaz, Alice Albergaria Borges, Beatriz Batarda, Clara Jost, Ricardo Aibéo, Rita Blanco, Miguel Seabra
Produção | Cécile Vacheret, Teresa Villaverde
Portugal, França | 2017 | Drama | 136 minutos | M/16
Cinema Dolce Espaço, Ovar
22 Jun 2018 | sex | 16:00


Apresentado na Competição Oficial do 67º Festival de Cinema de Berlim, “Colo” centra a sua acção num Portugal assolado pela crise económica que atinge duramente a classe média. Por detrás dos postos de trabalho descontinuados, há indivíduos e famílias inteiras lançados na incerteza, os sonhos adiados, a vida em suspenso. É disso que fala o filme, ao encontro duma família que, apesar de todos os esforços, se afunda cada vez mais na crise. O pai, desempregado, passa o tempo numa deambulação sem sentido, à espera de ver surgir uma qualquer luz ao fundo do túnel. A mãe, exausta com os dois empregos que acumula, mostra-se incapaz de garantir o sustento do lar. E a filha, em crise de adolescência, centra as dúvidas em tudo e em nada.

Repousando o seu olhar na dinâmica familiar abalada – com os consequentes desequilíbrios físicos e psicológicos a tornarem-se latentes -, Teresa Villaverde projecta uma sociedade profundamente doente, atormentada pela crise financeira. À realizadora interessa perceber mais os efeitos e menos as causas desta crise. A narrativa é crua e segue o seu rumo sem contemplações, os murros no estômago do espectador a sucederem-se a cada volta do filme. Numa casa onde o remedeio passa a ser regra, há muito pouco de romântico num jantar à luz das velas.

Lidando com um assunto tão impactante e actual, Teresa Villaverde revela uma enorme honestidade e coerência ao longo das mais de duas horas de filme. O ambiente depressivo no qual se desenvolve a acção e a ausência de esperança num futuro melhor são estigmas da verdade de cada um, por mais “geringonças” que se perfilem no nosso caminho. Depositar tamanho fardo no colo do espectador é, acima de tudo, despertá-lo para uma realidade que é de todos. É pedir-lhe que olhe em volta e perceba o que estamos a fazer a nós próprios em nome da Europa e dos mercados. É dizer-lhe que é tempo de erguer a voz e clamar por mais direitos e mais futuro. Em nome da liberdade!


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