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terça-feira, 1 de maio de 2018

CINEMA: "Como Nossos Pais"




CINEMA: “Como Nossos Pais”
Realização | Laís Bodanzky
Argumento | Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi
Fotografia | Pedro J. Márquez
Montagem | Rodrigo Menecucci
Interpretação | Maria Ribeiro, Clarisse Abujamra, Antonia Baudouin, Herson Capri, Cazé, Gabrielle Lopez, Jorge Mautner, Gilda Nomacce, Annalara Prates, Felipe Rocha, Sophia Valverde, Paulo Vilhena
Produção | Caio Gullane, Fabiano Gullane, Debora Ivanov, Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi
Brasil | 2017 | Drama | 102 minutos
Cinema Dolce Espaço, Ovar
28 Abr 2018 | sab | 21:30


Ao vermos “Como Nosso Pais”, é fácil perceber que “Sonata de Outono” ou “Intimidade” nos assaltam à memória, sobretudo porque a temática subjacente é, em grande medida, semelhante. É certo que o filme da brasileira Laís Bodanzky não tem a mesma “passividade agressiva” dos dois clássicos referidos, tão pouco há nela a violência psicológica e a intensidade dos ajustes de contas dos filmes de Bergman e Allen, mas não podemos deixar de sentir aqui a honestidade e sinceridade de quem apenas quer falar da verdade e da mentira na relação entre pais e filhos e na forma como isso se reflecte no dia a dia de todos e de cada um.

O filme conta a história de Rosa, uma mulher de súbito abalada por uma revelação brutal, o que faz bascular ainda mais os alicerces duma vida marcada pelo sonho de querer ser uma coisa mas ter de ser outra. Com um casamento à beira da ruptura, duas filhas a entrar na adolescência, um pai que é uma verdadeira fonte de problemas e uma mãe cuja figura castradora a mantém refém de si mesma, a protagonista deste drama intenso acaba por fazer a gestão possível do quotidiano, agarrando-se às poucas certezas que ainda lhe restam e ao sonho de vir a ser dramaturga. Até que chega o momento de repensar a sua vida e dizer “basta”!

Talvez por uma questão de opressão de género, as mulheres nunca falaram muito sobre elas e a forma como se relacionam. Filme feminino, mais do que feminista, “Como Nossos Pais” quebra com o tabu e isso deve-se, em grande medida, ao facto de ser Laís Bodanzky, uma mulher, a figura por detrás da camera e co-argumentista do filme, ao lado de Luiz Bolognesi. O filme reforça o talento da realizadora como uma grande contadora de histórias naturalistas e que mais não pretendem do que mostrar a vida tal como ela é. É impossível o espectador não se rever nos medos, inseguranças e passos em falso de Rosa, magistralmente interpretada por Maria Ribeiro. O trabalho de escrita de Bodanzky e Bolognesi é refinado, sensível e convoca a reflexão. É muito fácil acreditar nas verdades daquelas personagens; difícil é acreditarmos nas nossas próprias verdades, quando confrontadas com as verdades dos outros. Nesse sentido, prepare-se o espectador para um bom par de murros no estômago.

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