LIVRO: “Volta a Portugal”,
de Álvaro Domingues
Ed. Contraponto, Novembro de 2017
De estranheza se faz a leitura de
“Volta a Portugal”. A causa, essa, estará certamente no facto de o cérebro estar “formatado” para a ficção e de nela nada haver de
comparável ao livro de Álvaro Domingues. Aliás, “Volta a
Portugal” é, na essência, um livro anti-ficção, honestamente empenhado em desmontar a “ficção” do “todo que nunca houve” e,
de passagem, assentar umas valentes bordoadas nos mitos que persistem
em fazer da Pátria “a grande árvore de Natal do velho mundo
carregada de brinquedos divinos”, seja lá o que isso for.
Com uma estrutura simples, o livro
percorre Portugal de lés a lés, tendo a Serra da Estrela como ponto
de partida e terminando nas Ilhas. Pelo meio convida-nos a visitar o
Minho, o Ribatejo e o Algarve, o Alentejo, Trás-Os-Montes e o Douro,
também a Ria de Aveiro, ainda a região do Oeste, a “falecida Estremadura”. Cada capítulo é alvo duma apreciação do autor
em jeito de preâmbulo, uma espécie de inventário das regiões, no
que de bom e de mau nelas se pode achar. Há também uma parte
essencialmente visual, espécie de “fundamentação da tese”, com
belíssimas fotografias do próprio Álvaro Domingues, legendadas com um toque
de humor requintado. Finalmente, uma recolha de textos e poemas
alusivos a cada uma das fotografias, completando o todo de forma mais
ou menos discursiva.
Perante tamanha “hibridização”,
chamado a dar o veredicto, quedo-me pelo “nim” e explico porquê.
Retire-se do livro a sua componente fotográfica e a recolha de
textos que a acompanham e teremos aquilo a que chamaria o trabalho
de escrita do autor, ou seja, os argumentos de cariz exclusivamente pessoal em que assenta esta sua
“desconstrução da paisagem”. Ficamos, assim, com pouco mais de
duas dúzias de páginas (num livro que ultrapassa as trezentas), sem
dúvida bem escritas – ainda que a fórmula da inventariação dos
atributos de cada região se esgote ao fim de um par de capítulos -
mas que sabem a pouco face ao muito que haveria por dizer. Direi que
é nas imagens que reside a grande força desta “Volta a Portugal”,
o que me leva a tirar o chapéu ao Álvaro Domingues fotógrafo, que
não ao Álvaro Domingues literato. Talvez preferisse mesmo ver este
livro sob a forma de álbum fotográfico, as mais de duas centenas de
imagens destacadas da forma que bem mereceriam, as legendas geniais e as
considerações do autor num belo Prólogo. Assim, tal
como o vi, devo confessar que não fiquei fã.
Sem comentários:
Enviar um comentário