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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

LIVRO: "Volta a Portugal"



LIVRO: “Volta a Portugal”,
de Álvaro Domingues
Ed. Contraponto, Novembro de 2017


De estranheza se faz a leitura de “Volta a Portugal”. A causa, essa, estará certamente no facto de o cérebro estar “formatado” para a ficção e de nela nada haver de comparável ao livro de Álvaro Domingues. Aliás, “Volta a Portugal” é, na essência, um livro anti-ficção, honestamente empenhado em desmontar a “ficção” do “todo que nunca houve” e, de passagem, assentar umas valentes bordoadas nos mitos que persistem em fazer da Pátria “a grande árvore de Natal do velho mundo carregada de brinquedos divinos”, seja lá o que isso for.

Com uma estrutura simples, o livro percorre Portugal de lés a lés, tendo a Serra da Estrela como ponto de partida e terminando nas Ilhas. Pelo meio convida-nos a visitar o Minho, o Ribatejo e o Algarve, o Alentejo, Trás-Os-Montes e o Douro, também a Ria de Aveiro, ainda a região do Oeste, a “falecida Estremadura”. Cada capítulo é alvo duma apreciação do autor em jeito de preâmbulo, uma espécie de inventário das regiões, no que de bom e de mau nelas se pode achar. Há também uma parte essencialmente visual, espécie de “fundamentação da tese”, com belíssimas fotografias do próprio Álvaro Domingues, legendadas com um toque de humor requintado. Finalmente, uma recolha de textos e poemas alusivos a cada uma das fotografias, completando o todo de forma mais ou menos discursiva.

Perante tamanha “hibridização”, chamado a dar o veredicto, quedo-me pelo “nim” e explico porquê. Retire-se do livro a sua componente fotográfica e a recolha de textos que a acompanham e teremos aquilo a que chamaria o trabalho de escrita do autor, ou seja, os argumentos de cariz exclusivamente pessoal em que assenta esta sua “desconstrução da paisagem”. Ficamos, assim, com pouco mais de duas dúzias de páginas (num livro que ultrapassa as trezentas), sem dúvida bem escritas – ainda que a fórmula da inventariação dos atributos de cada região se esgote ao fim de um par de capítulos - mas que sabem a pouco face ao muito que haveria por dizer. Direi que é nas imagens que reside a grande força desta “Volta a Portugal”, o que me leva a tirar o chapéu ao Álvaro Domingues fotógrafo, que não ao Álvaro Domingues literato. Talvez preferisse mesmo ver este livro sob a forma de álbum fotográfico, as mais de duas centenas de imagens destacadas da forma que bem mereceriam, as legendas geniais e as considerações do autor num belo Prólogo. Assim, tal como o vi, devo confessar que não fiquei fã.

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