CONFERÊNCIA: “Coração de
Índio”,
de Ângela Ferreira
Clube Recreativo Avintense
04 Fev 2018 | dom | 11:30
Porque o iNstantes – Festival
Internacional de Fotografia de Avintes não se resume à vertente
expositiva, decorreu na manhã de domingo uma Conferência de
Ângela Ferreira (a.k.a. Berlinde), subordinada ao tema “Coração
de Índio” ou em tupi, linguagem indígena, “Nynhã Aba”.
Simultaneamente, teve lugar o lançamento em Portugal da Scopio
Magazine Addendum, um livro destinado a tornar mais palpável junto do
público o extraordinário trabalho da artista. Falando do seu trabalho
junto das comunidades indígenas e caboclas do Nordeste do Brasil, a
artista e investigadora logrou, graças ao seu enorme talento,
conhecimento e entusiasmo, contagiar a plateia e aquecer o Salão Nobre do Clube Recreativo Avintense, naquilo que acabou por
se constituir como uma reflexão sobre um possível lugar da imagem face às relações de afectividade que se estabelecem com o
objecto-fotografia.
Orientando a sua pesquisa para a defesa
duma arte no universo do sensível, Ângela Ferreira mergulhou nas
comunidades, entrou nas casas das pessoas, ouviu histórias, recolheu
objectos e falou dessas experiências. Neste processo riquíssimo de interacção entre a
investigadora e o objeto estudado, teve a oportunidade de perceber de
que forma os povos indígenas lidam com a sua identidade e qual o
valor afectivo da fotografia enquanto instrumento de diálogo com o
exterior. Do seu percurso como artista – pesquisadora – educadora,
Ângela Ferreira deu a ver ao público presente uma sequência de
imagens que foi projectando e que resumiram a construção do objecto
“livro de artista”, uma espécie de diário onde cabem, a par de histórias, textos, poesia e fotografias, todo um manancial de
linhas, símbolos, cores, risos e dor, saudade, tradições e
afectos, ou, como Ângela Ferreira vincou, “a ignição daquilo
que é o olhar do investigador”.
Destacando a fotografia como
“importante instrumento filosófico e poético, capaz de mediar as
possíveis relações entre os afectos e a construção do
conhecimento”, Ângela Ferreira citou Roland Barthes ao afirmar que
“o retrato sempre me espanta, com um espanto que dura e se renova,
inesgotavelmente”. Ao apontar a fotopintura como paradigma da
“estética da afectividade”, a artista referiu que ela representa
“a diferença entre aquilo que se é e aquilo que se quer ser”.
Ilustrando: “O fotopintor vem criar aquilo que é a dignidade do
retratado, elevando a sua auto-estima”. E acrescenta: “Não se
faz um retrato pintado à toa, é uma exaltação dos afectos, o
símbolo máximo do que se poderia abranger com um álbum de
família”. Mas deixou um alerta em jeito de conclusão: “Há fotografias que não se escrevem.
Só o tempo opera a justa forma de expressar os afectos.”
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Ângela Ferreira (a.k.a, Berlinde) -
Artista, curadora e investigadora, possui o Doutoramento em
Comunicação Visual e Expressão Plástica, pela Escola de Educação
da Universidade do Minho de Braga e a Escola de Belas Artes da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (2016). É mestre em
Fotografia Digital pela Utrecht School of Arts, Holanda (2004), sendo
Pós-Graduada em Direcção Artística pela ESAP do Porto (2003) e
Licenciada em Direito pela Universidade do Minho em Braga (1998). É
professora na Escola Superior de Media Artes e Design do Instituto
Politécnico do Porto e atua no domínio de investigação sobre as
formas híbridas da fotografia. É co-Fundadora da Associação e
Festival Internacional de Fotografia Encontros da Imagem de Braga
tendo sido diretora e curadora das exposições nela integradas de
2012 a 2016. Integra desde 2017 o Conselho de Curadores do Museu da
Fotografia de Fortaleza, no Brasil.
[Para saber mais sobre Ângela Ferreira e "Nynhã Aba", visite https://angelaberlinde.com/Nynha-Aba].
[Para saber mais sobre Ângela Ferreira e "Nynhã Aba", visite https://angelaberlinde.com/Nynha-Aba].
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