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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

CONFERÊNCIA: "Coração de Índio", de Ângela Ferreira



CONFERÊNCIA: “Coração de Índio”,
de Ângela Ferreira
Clube Recreativo Avintense
04 Fev 2018 | dom | 11:30


Porque o iNstantes – Festival Internacional de Fotografia de Avintes não se resume à vertente expositiva, decorreu na manhã de domingo uma Conferência de Ângela Ferreira (a.k.a. Berlinde), subordinada ao tema “Coração de Índio” ou em tupi, linguagem indígena, “Nynhã Aba”. Simultaneamente, teve lugar o lançamento em Portugal da Scopio Magazine Addendum, um livro destinado a tornar mais palpável junto do público o extraordinário trabalho da artista. Falando do seu trabalho junto das comunidades indígenas e caboclas do Nordeste do Brasil, a artista e investigadora logrou, graças ao seu enorme talento, conhecimento e entusiasmo, contagiar a plateia e aquecer o Salão Nobre do Clube Recreativo Avintense, naquilo que acabou por se constituir como uma reflexão sobre um possível lugar da imagem face às relações de afectividade que se estabelecem com o objecto-fotografia.

Orientando a sua pesquisa para a defesa duma arte no universo do sensível, Ângela Ferreira mergulhou nas comunidades, entrou nas casas das pessoas, ouviu histórias, recolheu objectos e falou dessas experiências. Neste processo riquíssimo de interacção entre a investigadora e o objeto estudado, teve a oportunidade de perceber de que forma os povos indígenas lidam com a sua identidade e qual o valor afectivo da fotografia enquanto instrumento de diálogo com o exterior. Do seu percurso como artista – pesquisadora – educadora, Ângela Ferreira deu a ver ao público presente uma sequência de imagens que foi projectando e que resumiram a construção do objecto “livro de artista”, uma espécie de diário onde cabem, a par de histórias, textos, poesia e fotografias, todo um manancial de linhas, símbolos, cores, risos e dor, saudade, tradições e afectos, ou, como Ângela Ferreira vincou, “a ignição daquilo que é o olhar do investigador”.

Destacando a fotografia como “importante instrumento filosófico e poético, capaz de mediar as possíveis relações entre os afectos e a construção do conhecimento”, Ângela Ferreira citou Roland Barthes ao afirmar que “o retrato sempre me espanta, com um espanto que dura e se renova, inesgotavelmente”. Ao apontar a fotopintura como paradigma da “estética da afectividade”, a artista referiu que ela representa “a diferença entre aquilo que se é e aquilo que se quer ser”. Ilustrando: “O fotopintor vem criar aquilo que é a dignidade do retratado, elevando a sua auto-estima”. E acrescenta: “Não se faz um retrato pintado à toa, é uma exaltação dos afectos, o símbolo máximo do que se poderia abranger com um álbum de família”. Mas deixou um alerta em jeito de conclusão: “Há fotografias que não se escrevem. Só o tempo opera a justa forma de expressar os afectos.”

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Ângela Ferreira (a.k.a, Berlinde) - Artista, curadora e investigadora, possui o Doutoramento em Comunicação Visual e Expressão Plástica, pela Escola de Educação da Universidade do Minho de Braga e a Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (2016). É mestre em Fotografia Digital pela Utrecht School of Arts, Holanda (2004), sendo Pós-Graduada em Direcção Artística pela ESAP do Porto (2003) e Licenciada em Direito pela Universidade do Minho em Braga (1998). É professora na Escola Superior de Media Artes e Design do Instituto Politécnico do Porto e atua no domínio de investigação sobre as formas híbridas da fotografia. É co-Fundadora da Associação e Festival Internacional de Fotografia Encontros da Imagem de Braga tendo sido diretora e curadora das exposições nela integradas de 2012 a 2016. Integra desde 2017 o Conselho de Curadores do Museu da Fotografia de Fortaleza, no Brasil.

[Para saber mais sobre Ângela Ferreira e "Nynhã Aba", visite https://angelaberlinde.com/Nynha-Aba].
 

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