EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “The
World of Steve McCurry”,
de Steve McCurry
Alfândega do Porto
14 Out > 31 Dez 2017
Quando começou a viajar, aos 19
anos, Steve McCurry tomou a decisão de dar um propósito à sua vida
no decurso dessas viagens, acabando a descoberta
da fotografia por se revelar determinante. De repente, encontrava no seu trabalho a energia de
que necessitava, o propósito pelo qual tanto ansiava, e percebia que
estava perante algo que poderia fazer o resto da sua vida. A verdade,
porém, é que nesse tempo estaria longe de imaginar o caminho que
mediaria entre os primeiros passos, num pequeno jornal nos subúrbios
da Pensilvânia, até aos nossos dias, a trabalhar para uma revista
como a National Geographic, com doze livros publicados e uma vida de
viagens pelos locais mais interessantes do planeta, registando alguns
dos momentos fundamentais dos nossos tempos. É parte desta caminhada
fascinante que se oferece ao olhar do visitante da Exposição “The
World of Steve McCurry”, naquele que é, inegavelmente, um dos
grandes acontecimentos culturais da cidade do Porto neste final de
ano. Uma Exposição que está patente no edifício da Alfândega até
ao último dia do ano e que é composta por um conjunto de duzentas
fotografias, cinquenta das quais comentadas pelo próprio Steve
McCurry, por intermédio de audioguia (incluído no preço do
ingresso).
Admirar cada uma das fotografias de
Steve McCurry é mergulhar num mundo fantástico de emoções e de
sentimentos, não raras vezes contraditórios. A extraordinária
imagem, captada a partir do interior dum taxi, de uma mulher com uma criança
ao colo pedindo esmola pelas ruas de Bombaim, sublinha, de forma
pungente, as enormes discrepâncias entre ricos e pobres. Por outro lado, é
impossível ficar indiferente a imagens que nos colocam,
literalmente, na linha da frente da História. O 11 de
Setembro é um desses momentos que iremos recordar para sempre graças a imagens como as de Steve McCurry. Ao documentar o
local, o momento, o fotógrafo mais não faz do que imortalizar a memória de um
outro tempo, de uma outra forma de viver neste planeta. E isto é
válido tanto para o terrível atentado, como é válido para o
Afeganistão ou para a Guerra do Golfo, por exemplo. Testemunhar momentos que
mudam o curso da história, ser parte da conversa, estar lá,
documentar, antecipar e fazer parte dessa antecipação é o desígnio
deste enorme fotógrafo. Mostrar ao Mundo a forma como a vida era
nesses locais e eventualmente a forma como mudou, por vezes para
melhor, faz-nos pensar naquilo que fomos e naquilo que somos. De que
forma os acontecimentos nos marcaram e o que mudou em nós. Por vezes para pior.
Uma das coisas que mais impressionam
nesta exposição é a sólida empatia que se gera entre fotógrafo e
espectador. A forma como se percebe a necessidade de ir em busca de
situações apaixonantes e com as quais há um claro envolvimento emocional, fazem de cada fotografia o ponto de partida de uma grande aventura. Observando os registos na Índia, por
exemplo, é impossível resistir ao apelo da cultura, das
pessoas, das paisagens. Com Steve McCurry, sentimo-nos recuar
centenas, nalguns casos milhares de anos, e com uma tal profundidade
que não nos cansamos de olhar para aqueles rostos, para aqueles lugares, e de nos interrogarmos acerca do papel do homem no mundo. Embarcar neste “Mundo de Steve McCurry” é confrontarmo-nos com momentos muito duros, é certo, mas é, ao mesmo tempo, percebermos a diversidade da raça humana, a sua riqueza cultural, o que diferencia os homens e o que os une. “Aquilo que move a paixão pelo teu trabalho é aquilo em que
acreditas, que dá um sentido à tua vida. O meu trabalho, a minha
arte, a minha fotografia, é algo de que nunca me afastarei, algo
que farei até ao meu último suspiro”, diz Steve McCurry. E está
tudo dito!
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