EXPOSIÇÃO: “As Pupillas do
Senhor Reitor – Chronica da Aldeia”,
Segundo Alfredo Roque Gameiro
Museu Júlio Dinis – Uma Casa
Ovarense
14 Nov 2017 > 06 Jan 2018
O aconchegante espaço do Museu
Julio Dinis – Uma Casa Ovarense dá a ver, por estes dias, um
conjunto de aguarelas e ilustrações do pintor Alfredo Roque Gameiro
(4 de Abril de 1864 – 05 de Agosto de 1935), a propósito do 150º
aniversário da publicação de “As Pupillas do Senhor Reitor –
Chronica da Aldeia”, de Júlio Dinis. Destinados à edição de
luxo do romance e publicados a partir da década de 80 do século XIX
pela tipografia “A Editora”, de Lisboa, são trabalhos onde
avulta a extraordinária simbiose entre imagens e texto e onde a
capacidade de compreender inteiramente a mensagem do escritor é
evidente.
Lançado ao público em formato de
folhetim em 1866 e, posteriormente, editado e publicado como livro no
ano seguinte, o romance “As Pupilas do Senhor Reitor” começou a
ser escrito em 1863, durante a estadia de Júlio Dinis em Ovar. Seria
de esperar, pois, encontrar nestes trabalhos de Roque Gameiro, para
além dos aspectos figurativos ligados à acção do romance, um
pouco dos ambientes vareiros – um palheiro, os bois a puxarem as
redes, um homem com camisa de flanela ao xadrez e barrete, por
exemplo. Isso, porém, não acontece. Numa entrevista dada ao Diário
de Lisboa, o pintor mostrou-se convencido de que o fundo do cenário
não podia ser Ovar e, “após palmilhar, de recanto a recanto, o
norte todo”, encontrou em Santo Tirso - onde o escritor também
esteve várias vezes e onde residiu demoradamente -, “a paisagem
que se ajustava, com uma realidade de entusiasmar, às descrições
do romance”.
Com “As Pupillas do Senhor
Reitor – Chronica da Aldeia”, o Museu Júlio Dinis – Uma Casa
Ovarense volta a presentear-nos com uma Exposição de um valor e
interesse extraordinários, onde avulta o rigor do artista – que
chegou a queixar-se de “ver demais” -, na forma como transpõe
para a tela ou para o papel as paisagens e os retratos. É legítimo
pensar que seria vantajoso poder apreciar as obras expostas no seu
“enquadramento natural”, ou seja, acompanhadas dum excerto do
romance que as pudesse, de alguma forma, situar. Seria para o público
uma enorme mais-valia, pela oportunidade implícita de compreender a
dimensão de complementaridade entre literatura e pintura, aqui tão
evidente. Mas estamos perante obras duma beleza invulgar e que se
apreciam em toda a sua singularidade, independentemente do suporte
literário a elas associado. Uma exposição a não perder e que
estará patente até ao dia 06 de Janeiro do próximo ano.
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