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domingo, 21 de dezembro de 2025

CERTAME: 20.º MIRA Mobile Prize | B&W Street Photography



CERTAME: 20.º MIRA Mobile Prize | B&W Street Photography
Vários artistas
Curadoria | Manuela Matos Monteiro, João Lafuente
MIRA Galerias | MIRA FORUM
08 Nov 2025 > 10 Jan 2026


Num tempo em que se partilham diariamente biliões de imagens e centenas de milhares de horas de vídeo, a ubiquidade do telemóvel transformou a fotografia num gesto quotidiano e global. A equipa do MIRA — Manuela Matos Monteiro e João Lafuente, com o apoio de Beatriz Vital — tem sabido ler esta mudança e desde há uma década que vem celebrando a fotografia mobile com um entusiasmo que se renova a cada edição. À open call do 20.º MIRA Mobile Prize | B&W Street Photography, chegaram imagens de todos os continentes, revelando não só a vitalidade do género como a capacidade do dispositivo móvel em captar o inesperado. A shortlist de cinquenta artistas, que pode ser vista por estes dias no MIRA Galerias | MIRA FORUM, confirma essa amplitude: uma multiplicidade de olhares sobre o espaço público, onde a vida acontece em movimento ou suspensão. O júri — Armineh Hovanesian, Emir Bozkurt, Marco Prado, Nelson Marmelo e Sukru Omar — distinguiu a norte-americana Renee Zanone com o prémio principal, destacando igualmente a portuense Raquel Lamares como a portuguesa mais bem classificada. À volta destes nomes orbitam Adelino Marques, Andrea Seligman, Filipa Scarpa, Marc Devriese, Augusto Lemos e muitos outros, numa mostra que afirma a fotografia mobile como território artístico pleno e não mera derivação tecnológica.

A exposição convida o visitante a abraçar, pela lente dos autores, fragmentos de vida colhidos nos cenários urbanos onde a humanidade se desloca, repousa ou simplesmente respira. É esse quotidiano plural, atravessado por personagens que vestem, celebram e sofrem de formas distintas, que ano após ano surpreende o júri e o público, desmentindo qualquer ideia de rotina num prémio que se vai tornando uma referência em Portugal. Nos trabalhos seleccionados, as ruas transformam-se em palco de narrativas silenciosas: da grande avenida cosmopolita à estreita rua de aldeia, dos átrios de estações ao rumor de cafés e museus. A luz molda arquiteturas, desenha sombras, enquadra corpos; por vezes, aproxima-se do minimalismo abstracto, noutras exalta a exuberância humana. O preto e branco, escolhido como território desta edição, concentra o olhar na textura, na forma e na estrutura, permitindo que os gestos ganhem força e as histórias se insinuem entre o envergonhado e o despudorado. A discrição do smartphone, a sua quase inviabilidade, torna-se decisiva para captar instantes irrepetíveis, preservando a espontaneidade da vida tal como acontece. Sem ensaios, sem anúncio, apenas presença.

A tradição da fotografia de rua - de Robert Frank a Vivian Maier, de Diane Arbus a Elliot Erwitt ou ao recentemente falecido Martin Parr, para citar apenas alguns nomes - ecoa nas imagens agora apresentadas, compartilhando com esses mestres a vocação documental de registar o humano em espaços públicos. Cada autor, porém, expande esse legado com nuances próprias: Se uns procuram a teatralidade das multidões, outros revelam a intimidade de um gesto solitário. Há olhares irónicos, empáticos, contemplativos. A diversidade expressiva reitera que a rua continua a ser um laboratório de emoções, onde a banalidade quotidiana convive com momentos de potencial histórico. E é precisamente aí que a fotografia mobile se afirma como instrumento contemporâneo: leve, silenciosa, acessível, capaz de captar o instante antes que ele se dissolva. A mostra do MIRA, patente até ao próximo dia 10 de janeiro, reúne esse caleidoscópio de sensibilidades num conjunto coeso que reafirma o poder da imagem a preto e branco para suspender o tempo e revelar a Humanidade no seu estado mais cru e mais luminoso. Entre profundidade poética e observação crítica, o espectador encontra aqui não apenas fotografias, mas encontros breves e intensos com o mundo, tal qual ele pulsa.

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