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domingo, 21 de setembro de 2025

CERTAME: XI Festival Literário de Ovar - Dia 3



CERTAME: XI Festival Literário de Ovar
Abel Mota, Ana Carvalho, Ana Sofia Marçal, António Cabrita, António Carlos Santos, Carlos Coutinho, Carlos Nuno Granja, Joana Alegre, Joaquim Margarido, José Fialho Gouveia, José Saro, Luís Correia Carmelo, Mafalda Rocha, Nuno Artur Silva, Paulo Freixinho, Pedro Guilherme-Moreira, Rogério Charraz, Sofia Paulino, Trigo Limpo – Teatro ACERT
Escola Secundária Júlio Dinis, Biblioteca Municipal de Ovar, Museu Júlio Dinis, Escola de Artes e Ofícios
19 Set 2025 | sex | 10:30, 14:30, 18:00 e 21:30

Foi gigante, o terceiro dia do Festival Literário de Ovar, não apenas pela sua dimensão no tempo, mas também pela quantidade de momentos preciosos que encerrou. A companhia Trigo Limpo Teatro ACERT abriu as hostilidades, levando à Escola Secundária Júlio Dinis, a meio da manhã, a peça “Teatro Paraíso / Palavra Ambulante”. Ao início da tarde, na Biblioteca Municipal de Ovar, Paulo Freixinho orientou uma oficina de leitura e escrita intitulada “Palavras Cruzadas”, e pelas 18h00, o Museu Júlio Dinis foi palco da apresentação do livro “Um Pouco Mais de Sol”, de Abel Mota, uma edição da Guerra e Paz. Neste mesmo espaço, a fechar uma tarde bem preenchida, Pedro Guilherme-Moreira moderou a quarta mesa do Festival, na qual participaram Carlos Nuno Granja, Carlos Coutinho e Ana Sofia Marçal. Incidindo sobre “O Festival Literário e a relação com o território e sua comunidade”, a conversa permitiu partilhar factos, números e curiosidades e reflectir sobre os desafios em torno de Festivais como a Maratona de Leitura da Sertã, o FÓLIO - Festival de Literatura de Óbidos e o FLO - Festival de Literatura de Ovar.

Após o jantar, os passos encaminharam-se para a Escola de Artes e Ofícios onde, a abrir a sessão, Ana Carvalho apresentou o livro “PHOSPHOROS (100 amorfos)", de António Carlos Santos, momento que teve na declamação “comunitária” de poemas do livro um dos seus pontos fortes. Seguiu-se a Mesa 5 do FLO, com os escritores António Cabrita e Nuno Artur Silva a pesarem as palavras de Sophia de Mello Breyner Andresen - “A cultura é uma das formas de libertação do homem. Por isso, perante a política, a cultura deve sempre ter a possibilidade de funcionar como antipoder”. Com moderação de Joaquim Margarido, os convidados debruçaram-se sobre a escrita como acto político, olharam para o livro como um agente interventivo capaz de suscitar o debate público e político, analisaram um tempo de polarização política e a forma como isso influencia a aceitação da obra dos escritores de hoje e concordaram que, mesmo que o discurso político se faça, muitas vezes, nas redes sociais, também aí pode haver lugar para a literatura. Nuno Artur Silva particularizou a sua experiência enquanto Presidente do canal público de televisão para avaliar os media actuais como espaços culturais e António Cabrita comentou o papel da diáspora e das migrações na redefinição da literatura moçambicana, num país onde o mercado do livro é praticamente inexistente e os jovens escritores cedem facilmente às novas tendências do mercado, abdicando da singularidade da sua escrita.

O concerto “ANÓNIMOS de Abril” fechou a noite da melhor forma, trazendo consigo um conjunto de canções originais e inéditas que trazem para um plano central o nome de mulheres e homens que tiveram a coragem e a ousadia de enfrentar e fragilizar um regime que, durante quarenta e oito anos, explorou e oprimiu o nosso povo. Estreado em de Janeiro de 2024 e inserido nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, o projecto é baseado em textos de José Fialho Gouveia, Aurora Rodrigues (um relato arrepiante da sua experiência de prisão e tortura) e Miguel Carvalho, jornalista e sobrinho de Branca Carvalho (outra das homenageadas do projeto) e conta com a música de Rogério Charraz e as vozes do próprio Charraz e de Joana Alegre. Procurando preservar a memória colectiva do nosso país e ampliá-la com as histórias menos conhecidas daqueles que, nalguns casos, pagaram com a própria vida a luta pelos ideias de liberdade e democracia, o colectivo trouxe-nos palavras fortes e vivas que lembraram  Celeste Caeiro e Aurora Rodrigues, Jorge Alves e o Padre Alberto, Arajaryr Campos e Francisco Sousa Mendes, entre várias outras figuras. O concerto fechou com a sala em pé, irmanada nos ideais de liberdade que nortearam todo o serão, a cantar o hino dos Hinos, “Grândola Vila Morena”.

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