CERTAME: XI Festival Literário de Ovar
Ana Zorrinho, aRita, Aurelino Costa, Aurora Gaia, Bruno M. Franco, Carla Pais, Cátia Cardoso, Cristina Marques, Diana de Oliveira, Elsa Teixeira, Filipa Amorim, Filipa Vera Jardim, Helena Ribeiro, Joana Nogueira, João B. Ventura, José Riço Direitinho, Joaquim Margarido, Lúcia Moniz, Luís Correia Carmelo, Miguel d’Alte, Minês Castanheira, Miriam Gonçalves, Nuno Alexandre Vieira, Paula Mendes Coelho, Pedro Lamares, Pedro Reisinho, Ricardo Santos, Raquel Patriarca, Rita Tormenta, Rodrigo Vieira Dias, Rui Sobral, Sara Dias Oliveira, Sílvia Lima, Trigo Limpo – Teatro ACERT, Vasco Prazeres, Vera Morgado, Vítor Gil Cardeira, Zetho Gonçalves
Parque do Buçaquinho, Museu Júlio Dinis, Jardim dos Campos, Centro de Artes de Ovar e Bar do CAO
20 Set 2025 | sab | 10:00, 14:00 e 21:30
Tradicionalmente o mais exigente, mas também o mais aliciante, o quarto dia do Festival Literário de Ovar voltou a prender a atenção dos amantes do livro e da leitura, pela sua rica e variada oferta. “Patrulha Raposa – Vigilantes da floresta”, escrito por Diana de Oliveira e apresentado por Pedro Reisinho, deu início a uma viagem que teve o seu início no Parque Ambiental do Buçaquinho e viria a terminar, mais de quinze horas depois, no Bar do Centro de Artes de Ovar. Num espaço dedicado à Literatura Infantil, a manhã foi preenchida com uma Oficina de Ilustração dinamizada por aRita, uma sessão de contos com Luís Correia Carmelo e ainda uma Mesa moderada por Helena Ribeiro e que teve num painel constituído por Miriam Gonçalves, Elsa Teixeira e Rodrigo Vieira Dias, três figuras muito especiais. Entre as estratégias para adormecer os mais novos e o poder das ideias em frente da folha em branco, os convidados falaram de livros, das fontes de inspiração dos seus trabalhos, da necessidade da literatura infantil para o crescimento e desenvolvimento infantil, mas também da importância do “aborrecimento” das crianças, da ausência de estímulos que muitas vezes deixam os pais exauridos, mas que as obriga a serem criativas.
Ao início da tarde, no Museu Júlio Dinis, procedeu-se à entrega de prémios da “III Edição do Concurso Literário e de Ilustração Júlio Dinis 2025”, uma iniciativa do Agrupamento de Escolas Ovar Sul e que conta com o apoio da Câmara Municipal de Ovar. A mais conhecida “Casa Ovarense” da cidade foi igualmente palco da apresentação do livro “O Flâneur de Paris”, de João B. Ventura, e de uma conversa com o escritor Bruno M. Franco sobre o género policial na literatura portuguesa contemporânea. Simultaneamente, no Jardim dos Campos, decorria a apresentação dos livros “Truz Truz, Abre a Porta, Avestruz”, de Vera Morgado, e “Agora sou capaz”, de Ricardo Santos e Joana Nogueira, com ilustração de Sílvia Lima, a par com uma bem participada Oficina de Ilustração com Nuno Alexandre Vieira e, no espaço fronteiro da Câmara Municipal de Ovar, uma nova representação de “Teatro Paraíso / Palavra Ambulante” pelos actores da companhia Trigo Limpo - Teatro ACERT, de Tondela. A apresentação de livros teve ainda um último capítulo ao início da noite, num Centro de Artes de Ovar quase lotado, com as atenções a virarem-se para “Cartografia”, “poesia escrita a quatro mãos e dois corações” por Minês Castanheira e Raquel Patriarca, e que resultou num momento de generosa partilha de poemas, afectos e emoções.
Além do momento da manhã referido anteriormente, o programa teve para oferecer mais três mesas de conversa, duas das quais no Museu Júlio Dinis. Rico, vivo, apaixonante, o primeiro desses momentos contou com a moderação de Cátia Cardoso e deu a escutar as impressões de Rita Tormenta, Filipa Vera Jardim e Vítor Gil Cardeira sobre a vaidade e a inveja no seio do complexo mundo da escrita. Em termos muito gerais, Vitor Cardeira falou da escrita como uma doença da qual não é possível livrar-se, no que foi acompanhado por Filipa Vera Jardim, ciente de que “sem livros morreria”. Rita Tormenta admitiu que “ninguém escreve sem um pouco de vaidade” e Filipa Vera Jardim acrescentou que “é preciso saber distinguir a inveja da admiração: narcisos somos todos”. Enfim, sobre o acto da escrita, Vítor Gil Cardeira afirmou que “o escritor constrói e destrói mundos” e que “escrever é uma luta brutal contra a auto-censura”. Uma frase de Agustina Bessa-Luís - “Eu pretendo dizer da amizade o que Diógenes dizia do dinheiro: que ele o reavia dos seus amigos, e não que o pedia.” - serviu de mote à segunda mesa da tarde. Com moderação de Sara Dias de Oliveira, para quem “escrever é um processo doloroso e um acto de amor”, Miguel D’Alte, José Riço Direitinho e Vasco Prazeres abordaram os temas da amizade e da inveja, do interesse e da distração que as redes sociais constituem (para o bem e para o mal) e, naturalmente, do amor, nas suas mais variadas vertentes. A conversa estendeu-se ao público, com a escritora Raquel Patriarca a fazer notar que “os livros dão algo aos leitores que estes nunca irão pagar”.
A mesa da noite, no Centro de Artes de Ovar, foi beber o tema a uma citação de Raúl Brandão: “Invejo os que se deitam cismando nos seus livros e se levantam pensando com obstinação nos seus livros.” Foi sobre o ofício da escrita e as muitas reflexões que suscita que se debruçaram as escritoras Carla Pais, Filipa Amorim, Ana Zorrinho, numa conversa moderada por Cristina Marques. Ofício da escrita onde se cruzam os episódios do quotidiano, as personagens saídas de um imaginário fácil de contextualizar mas difícil de explicar, a surpresa com aquilo que vai passando para o papel e um certo grau de loucura. Numa mesa que abriu espaço à leitura de excertos dos livros das autoras, o destaque vai para o conto “O Louco”, de Ana Zorrinho, lido superiormente pela autora e sobre o qual Carla Pais afirmou: “Quem não se arrepiou com este momento, não percebe nada acerca do poder da Literatura”. Outro ponto alto do serão foi a performance “Para atravessar contigo o deserto do mundo”, com Lúcia Moniz e Pedro Lamares a cruzarem a poesia de Jorge de Sena e de Sophia de Mello Breyner Andresen com as cartas que ambos trocaram ao longo de dezoito anos e que constituem um impressionante retrato social, histórico e moral do Portugal dos anos 60 e 70, o retrato de um país roubado. Já a noite ía adiantada quando, no Bar do CAO, “Poesia A Meias”, de Aurelino Costa & Zetho Cunha Gonçalves, com Aurora Gaia, fechou da melhor forma o penúltimo dia do Festival.
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