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quarta-feira, 13 de agosto de 2025

EXPOSIÇÃO DE PINTURA E DESENHO: “Entre Pares” | Francisco Badilla, Sónia Teles e Silva



EXPOSIÇÃO DE PINTURA E DESENHO: “Entre Pares”,
de Francisco Badilla e Sónia Teles e Silva
Árvore - Cooperativa de Actividades Artísticas
26 Jul > 23 Ago 2025


Francisco Badilla e Sónia Teles e Silva apresentam, nas salas 2 e 3 da Árvore, “Entre Pares”, um diálogo intimista que marca a relação entre território e identidade. Partindo de experiências diversas, os artistas interagem por entre técnicas e entendimentos que se completam, para projectar uma espécie de jornada entre fábula e paisagem. Através dos espaços que ocupam e em que convergem, Francisco Badilla e Sónia Teles e Silva envolvem-nos nas suas vivências do quotidiano, apelando à observação daquilo que nos rodeia. Em Portugal há seis anos, o chileno Francisco Badilla coloca uma marca de intimidade num percurso artístico que se alarga com cada obra. Nos seus trabalhos, o imaginário surge como uma visão inconsciente, rostos, personagens e paisagens reconhecidos e acolhidos como seus. São imagens que vai coleccionando de um Portugal com história, carregado de nostalgia e habitado por lendas e cuja visão se expressa através do óleo e do carvão, em composições onde as figuras interagem e a paisagem dialoga com a modernidade.

Sónia Teles e Silva centra os seus trabalhos numa geografia precisa, a cidade do Porto que a viu nascer. Um Porto como pretexto para construir imagens com as quais sonha, encenando realidades únicas e irrepetíveis através do desenho. As narrativas controem-se para além da cidade de granito, das ruas e ruelas, do casario. Num Porto de jardins, a artista descubre a forma das árvores, das raízes e dos troncos, desenha plátanos, camélias, araucárias, magnólias, palmeiras, metrosíderos e a Ginkgo biloba. Desenha as estações do ano com as cores das folhas, ora verdes, ora douradas, ora castanhas e vermelhas, às vezes despidas, com os seus longos ramos em linhas que se estendem bem alto, em pontas que se desvanecem no céu. Casas e monumentos insinuam-se entre as árvores e o bronze das esculturas, esquecidas, funde-se com o verde dos jardins, ganham a patine da cor das folhas. Do coreto parece vir a música que chega gora aos nossos ouvidos.

Para Francisco Badilla, este país é visto como o último limite do Oeste europeu, marcado por tradições e por uma identidade profunda. No seu desenho, rostos e lugares antigos cruzam-se com elementos contemporâneos, num tempo que parece suspenso — como se certas coisas não mudassem, permanecessem. Há também uma certa incerteza, como se a realidade não fosse fixa: um espaço imprevisível, onde tudo pode transformar-se. Tal como sucede com o desenho de Sónia Teles da Silva, expressivo na inquietude dos melros pretos de bico amarelo, na placidez dos gatos que se deleitam ao sol ou na delicada linha do horizonte, entre o azul do céu e o azul do mar, só interrompida pelos barcos que rasgam o mar alto. Com ela seguimos viagem mar adentro, ao longo do paredão até ao farolim de Felgueiras. Imaginamos a luz acesa lá no alto, ouvimos o roncar do farol, sentimos o cheiro a maresia. Em dias de tempestade, deixamos de o ver, coberto pelas ondas estilhaçadas que se erguem entre o belo e o horrível. Onde acaba o mar? Onde começa o céu?

[Texto baseado na Folha de Sala da exposição, em https://arvorecoop.pt/wp-content/uploads/2019/01/Folha-de-sala-web.pdf]

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