EXPOSIÇÃO: “Submerso Imerso”,
de Vanessa Barragão
Curadoria | Ben Austin
Casa da Cultura de Ílhavo
08 Fev > 11 Abr 2025
Quem nunca se sentiu atraído pelas belezas do mundo subaquático, com os seus recifes rochosos, algas e grutas submersas, as suas criaturas raras e fascinantes, as suas moreias e cavalos-marinhos, ouriços-do-mar e conchas de mil cores? Esse mundo invisível, em comunhão com o som das ondas a rebentar ao longe e a visão de um horizonte que se estende infinitamente? É esse mundo mágico, infelizmente tão maltratado e negligenciado nos dias de hoje, mas fundamental para a vida na Terra, que “Submerso Imerso” se propõe recriar, guiando o visitante numa viagem intrigante de comunhão com a simplicidade da vida e com a beleza da natureza. Ao mesmo tempo, convida a um mergulho artístico no reino inexplorado da imaginação, uma jornada profunda no subconsciente e no processo criativo de Vanessa Barragão, feito de técnica e paciência, eficácia e um enorme bom gosto.
Nascida em Albufeira, em 1992, Vanessa Barragão tem no mar uma das constantes da sua vida, explorando, a partir dele, as diferentes possibilidades do fio e da tapeçaria, sem descurar questões como a sustentabilidade e a ecologia do processo de produção. A partir de uma série de peças escultóricas feitas de desperdício têxtil, “Submerso Imerso” resulta da interpretação pessoal de um microcosmos aquático encantado e hipnotizante, que ostenta uma organicidade reconhecível e abraça o mundo do fantástico com um carácter que o transcende. Cada peça existe de forma independente, mas pode integrar uma instalação maior, estabelecendo entre si uma relação espacial e uma inter-conectividade próprias. Quase alienígenas, como espécies estranhas e criaturas encontradas nas profundezas dos oceanos, as peças resistem a uma representação literal do mundo natural, preferindo uma interpretação mais abstracta que encontra eco no nosso imaginário e memórias.
É tempo de nos aventuremos pelos meandros de um microcosmos aquático encantado, distante do caos e da confusão globais, um lugar que convida à reflexão e à calma. Podemos apreciar cada peça na sua dimensão individual, mas podemos também integrá-las numa instalação maior, de forma a estabelecerem entre si uma relação espacial e uma inter-conectividade que encontram eco no imaginário e memórias de cada um. Cada uma das peças contempla um manancial inesgotável de “informação”, quer pela técnica metódica de produção ou pela exigência dos materiais, quer pelo esplendor das formas ou pela extraordinária combinação de cores. Verdadeiro apelo aos sentidos, as cores, padrões e composições fazem de cada peça uma obra de arte completa. Nas múltiplas camadas que integra, nos diálogos que se abrem em beleza e emoção, percebe o visitante o aspecto imersivo da mostra, numa viagem entre o sentir mais íntimo e o imaginário sem fim.
Sem comentários:
Enviar um comentário