EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Folia”,
de Egídio Santos
Escola Secundária de Almeida Garrett - Espaço Augusto Pires
22 Fev > 14 Mar 2025
“Ó entrudo chocalheiro / Que não deixas assentar / As mocinhas ao solheiro”
José Afonso, “Moda do Entrudo”
Enquanto perduram as emoções do Carnaval e não se instala em definitivo esse tempo de expiação e pesar que é a Quaresma, é tempo de olhar “Folia”, exposição de fotografia de Egídio Santos que, até 14 de Março, pode ser vista no Espaço Augusto Pires, na Escola Secundária de Almeida Garrett, em Gaia. São mais de trinta fotografias que nos transportam a Vila Boa de Ousilhão, no concelho de Vinhais, ao encontro das suas gentes nesta particular quadro do Entrudo. Fruto de um trabalho que se estende de 2012 até aos dias de hoje e que acompanha uma das mais vincadas tradições nesta aldeia da Terra Fria Transmontana, “Folia” constitui-se num completo e precioso retrato da festa nas suas múltiplas dimensões, do cuidado posto nos preparativos aos característicos folguedos e tropelias, sem esquecer o jantar e o baile de fim de festa. Com grande sensibilidade e um raro sentido de oportunidade, o artista dá-nos a ver “máscaros”, “madamas” e “marafonos” em galhofas e folias de uma energia transbordante, sempre prontos a investir com as suas chocalhadas sobre as moças solteiras, como manda a tradição.
O cromatismo dos trajes e a exuberância dos gestos levam a que nos aproximemos de cada uma das imagens em busca das notas de originalidade ou de pormenor que as tornam distintas e únicas. Levado pela imaginação, o visitante parece escutar a estridência da vozearia onde o português e o galego se misturam, as invectivas provocadoras de quem pretende afirmar a sua masculinidade, os gritos das jovens (e menos jovens) assediadas ou o tinir constante das campainhas e dos pesados chocalhos que os foliões trazem ao peito e à cintura. A isto junta-se um intenso cheiro a fumo que se desprende das gigantescas fogueiras que ardem nos terreiros da festa, tornado mais acre devido à humidade que cobre o ar. Ao mesmo tempo, o olhar viaja ao encontro das intrigantes máscaras, preciosas obras de arte “com assinatura”, que têm por base a madeira, num ou noutro caso pintada, e que podem também ser de couro ou de zinco. De qualquer modo, sempre expressivas, conferindo aos mascarados um ar demoníaco.
Dança, arreliação, brincadeira e devoção são características de uma tradição que se perde na noite dos tempos, um acto simbólico que remete para uma possível ligação aos rituais agrários e de fertilidade numa altura em que o Inverno está a despedir-se e se anuncia a Primavera em brilho, cor e novidade. A sul de Vila Boa de Ousilhão, distando dela cerca de 40 quilómetros, Podence, no vizinho concelho de Macedo de Cavaleiros, tem na tradição do Entrudo Chocalheiro a sua marca distintiva, o que levou a que esta prática social viesse a ser inscrita na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO em 2019. Louve-se o trabalho e a dedicação de quem não desiste de manter viva a tradição; e louve-se a resiliência, persistência e a arte de bem fotografar de Egídio Santos, incansável guardião dos mistérios e doutrinas desta festa tão especial. Quem quiser apreciar esta exposição deverá fazê-lo até ao próximo dia 14 de Março, mediante marcação através do endereço monicamendes@esgarrett.com.pt. Boa visita!
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