EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Ezequiel de Campos - 150 Anos do Nascimento”
Centro Português de Fotografia
12 Dez 2024 > 27 Abr 2025
Engenheiro, professor catedrático, economista, escritor, deputado e ministro, Ezequiel de Campos nasceu na Póvoa de Varzim, a 12 de dezembro de 1874. Mas é na qualidade de fotógrafo que vamos ao seu encontro, numa altura em que passam 150 anos sobre a data do seu nascimento e o Centro Português de Fotografia decide comemorar a data, evocando o seu trabalho. Produzida com imagens do seu acervo fotográfico, doado em 2016 pela família, a exposição documenta os locais por onde passou e onde viveu ao longo da sua vida. Realizadas após a idade adulta, com o início da sua vida profissional, as fotografias documentam os locais por onde passou e onde viveu ao longo da sua vida. Este lado documental transforma-o numa espécie de antropólogo visual, na esteira de nomes importantes da fotografia e do cinema como Robert Flaherty, Margaret Mead ou Jean Rouch. Ilustram esta realidade as imagens de S. Tomé e Príncipe, nomeadamente a instalação do caminho-de-ferro, a vida nas roças ou o reconhecimento e medição do Pico do Cão, onde foi pioneiro a chegar.
De âmbito paisagístico, agrícola, social e etnológico, as imagens da sua Beiriz natal, reflectem um forte apego à terra e às suas gentes, ao trabalho e à família, sem esquecer o cão Piloto. O Paço de Leça do Balio, local escolhido para morada de família, é outra das evidências, destacando-se as obras de reconstrução da Casa do Mosteiro e as práticas da lavoura. Da exposição fazem também parte algumas fotografias da cidade de Évora, onde viveu e se dedicou à agricultura, dos rios Douro, Cávado, Tejo e Ribacoyo e também da cidade do Porto. Curiosamente, as poucas fotografias da cidade invicta documentam a zona da Ribeira, o Muro dos Bacalhoeiros e a montagem de candeeiros na Praça de Carlos Alberto, em 1925, facto que à época determinou a publicação de notícia e ilustração jocosa no jornal humorístico “Córócócó”. Estão também documentadas duas viagens, uma designada de “estudantes”, que poderá ter ocorrido após a conclusão do curso, e outra de “professores”, em 1940.
Mesmo considerando que as narrativas que suportam cada uma das imagens parecem ser ingénuas e meramente ilustrativas, facto hoje amplamente criticável como uma utilização reducionista da imagem, uma simples “prova” do “eu estive lá”, as fotografias parecem contrariar essa apropriação reducionista, abrindo-nos a possibilidade de perceber um olhar outro que retorna ao antropólogo. Ao vermos a troca de olhares entre fotógrafo e fotografados, a disposição dos corpos em relação a uma cena que se constrói, um fora de campo que se insinua, somos despertados pelas imagens para uma sensação provocadora: a de que o uso seminal da fotografia como fenómeno provocador de reflexão antropológica aguardava ainda um olhar que não existia. Um olhar capaz de reconhecer e aprender pela e com a imagem, capaz de ler a imagem e as complexas relações que esta constrói com a realidade nela insinuada. Um olhar capaz de entender o “risco” da subjetividade ligado à imagem como uma oportunidade de ampliar o conhecimento.
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