EXPOSIÇÃO DE AGUARELAS E DESENHOS: “Riscos Calculados”,
de Zé Maia
Biblioteca Municipal de Ovar
28 Fev > 26 Abr 2025
Podemos falar de uma actividade em expansão ao abordar o assunto “Desenho Urbano”, essa prática artística que vem chamando às ruas de cidades e vilas um número crescente de praticantes. Focados na arquitectura ou em cenas do quotidiano, nas pessoas que tomam o seu café numa esplanada ou num gato que dormita num beiral, os “urban sketchers”, como são universalmente conhecidos, mostram-se particularmente atentos, metódicos e expeditos na construção dos seus trabalhos, conectando mundos interiores e exteriores com engenho e arte, assim construindo narrativas de inegável valor educativo e artístico. Individualmente ou em conjunto, no respeito pelo seu próprio estilo e pelos materiais escolhidos para levar a cabo a sua actividade, replicam com minúcia as cenas que testemunham, fazendo de cada obra o registo muito especial de um tempo e de um lugar específicos. Depois, tirando o melhor partido das redes sociais, partilham os desenhos produzidos, dando a ver ao mundo verdadeiras pérolas.
José António Maia de Almeida, conhecido como Zé Maia, não será o único desenhador urbano da cidade de Ovar, mas é, seguramente, o mais carismático. Ao talento inato, alia a paixão pela sua Ovar natal, olhando com renovada dedicação a forma como a cidade cresce e se transforma. Mas o seu olhar vai mais longe, ultrapassa as fronteiras do concelho, poisa na fachada de uma igreja em Cacela Velha ou nos muros de uma fortaleza em Sesimbra, no edifício que acolhe a Biblioteca Municipal de Vouzela ou numa vista de S. Jacinto. Deixemos que a imaginação voe ao encontro do artista, sentado no seu banquinho desdobrável ali na Rua Dr. Manuel Arala, na frontaria daquele que foi o Café Paraíso e, mais tarde, a Relojoaria Ovarense. Sentemo-nos também e vejamos como poisa no colo o caderno de desenho e dispõe à mão o lápis, a borracha e a caneta com tinta indelével. O estojo com tintas de aguarela e os pincéis aguardarão a sua hora, bem como o carimbo com a efígie do seu pai, a partir de um desenho que dele fez em 1982 e que é a sua forma simples de o homenagear. Para já, vemos como nasce o esboço dos edifícios, com o desenho a lápis e os primeiros contornos a tinta carbono (indelével); de seguida, intensificam-se os contornos e o desenho ganha detalhe, cresce. Com as primeiras “aguareladas” entra-se na fase da cor e a magia acontece.
Se conseguiu imaginar Zé Maia a sós com os seus rabiscos, agora tem a possibilidade de apreciar este trecho particularmente belo de uma das ruas centrais de Ovar na exposição intitulada “Riscos Calculados” e que ocupa a galeria de exposições temporárias da Biblioteca Municipal de Ovar. Lá encontrará um conjunto de olhares sobre a nossa frente citadina, mas também de um Ovar rural, do interior da Igreja Matriz a um largo de Sande. Particularmente belos são três trabalhos que retratam outras tantas Alminhas, assim como um pormenor do final da Rua Castilho, muito próximo das traseiras da Capela dos Campos. Zé Maia manifestou desde sempre interesse pelas diversas formas de Arte, muito por influência paterna - o pai, José Augusto de Almeida, foi fundador e primeiro director do Museu de Ovar. Por essa razão, nunca descarta a possibilidade de levar à prática a sua veia criativa, nomeadamente o “urban sketching”, tendo no seu caderno, lápis, tintas e pincéis, uma companhia constante. Regressa agora à Biblioteca com este novo conjunto de trabalhos, alguns deles inéditos, e outros que, pertencendo a colecções particulares, só tinham sido divulgados através das redes sociais. Para ver até 26 de Abril.
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