CONCERTO: Bill Frisell Trio
Com | Bill Frisell (guitarra), Thomas Morgan (contrabaixo), Rudy Royston (bateria)
Auditório de Espinho - Academia
11 Mar 2025 | ter | 21:30
Por ser tão comum o uso da expressão “tocar juntos”, parece haver uma tendência para a desvalorização ou esquecimento do seu verdadeiro significado e das implicações de uma prática profundamente enraizada no Jazz. Além do natural “fazer música com outras pessoas” ou “apresentar-se em conjunto”, ela encerra toda uma unidade interior que se estende além das fronteiras do óbvio, conferindo ao conceito uma dimensão própria, profunda e insondável, do domínio do emocional e íntimo. O guitarrista Bill Frisell, o contrabaixista Thomas Morgan e o baterista Rudy Royston provaram isso mesmo na noite da passada terça feira, num muito saudado regresso a Espinho, depois de aqui se terem apresentado em Julho de 2021. Em palco, num registo praticamente “non stop” de grande fôlego, o trio mostrou o que é “tocar juntos”, fazendo assentar a sua música num entrosamento perfeito, os instrumentos cruzados, as frases musicais firmemente entrelaçadas, um propósito perseverante e resoluto, um pensamento único.
Estruturando o alinhamento do concerto em duas partes algo distintas – uma fase inicial mais minimalista, com ênfase na improvisação, e uma segunda de grande requinte, privilegiando a harmonia graças a uma mão cheia de belíssimos temas respigados da sua vasta discografia –, Bill Frisell e companhia puseram em palco o seu virtuosismo e a sua qualidade instrumental, misturando elementos sonoros e explorando linguagens que cruzam domínios, estilos e géneros que vão da música folk ao jazz ou aos blues, sem esquecer os ritmos de raiz africana ou as bandas sonoras de filmes e séries com as quais cresceu nos anos 50 e 60. Frescura, inovação e lirismo encontram na música do Bill Frisell Trio campo vasto para se espraiarem, convidando o público a deixar-se levar numa onda verdadeiramente hipnotizante e a viajar por paisagens de cortar a respiração.
São muitos os guitarristas no mundo do jazz, mas há apenas um Bill Frisell, um pioneiro cuja influência sobre várias gerações de guitarristas é indesmentível. O seu ecletismo, a sua vontade de experimentar novas sonoridades e o uso de efeitos musicais preencheram o serão, reforçando a excelência do seu projecto estilístico. Ao seu lado, o baixista Thomas Morgan e o baterista Rudy Royston mostraram-se musicalmente ágeis o suficiente para irem a qualquer lugar com espontaneidade e virtuosismo, repartindo com o líder do agrupamento os aplausos do público graças a um conjunto de apontamentos solísticos vivos e refrescantes. Mesmo que o concerto tenha sido uma quase repetição daquilo a que muitos puderam assistir há quase quatro anos, vale sempre a pena dedicar um pouco da atenção a este génio da guitarra e à interacção cúmplice no seio do trio. A longa e calorosa ovação final, a forçar um precioso “encore”, foi bem demonstrativa do reconhecimento e agradecimento do público por mais uma bela noite no Auditório.
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