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sexta-feira, 14 de março de 2025

EXPOSIÇÃO DE PINTURA: "Paisagens Humanas" | Do Carmo Vieira



EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Paisagens Humanas”,
de Do Carmo Vieira
Museu Municipal de Espinho
08 Mar > 12 Abr 2025


Onde quer que possamos apreciá-la, a arte de Maria do Carmo Vieira coloca-nos sempre perante os mistérios da vida, os seus dilemas e contradições, a sua emoção e dramatismo, a sua intimidade e sinceridade. Nascida “do encontro entre a arte, a memória e o compromisso”, a exposição “Paisagens Humanas”, patente até 12 de Abril nas galerias Amadeo Souza-Cardoso do Museu Municipal de Espinho, desdobra-se em tudo isto e mais ainda. Ela é o reflexo das inquietações humanistas da artista, do seu compromisso com o outro e com a natureza no seu estado mais puro, de um sentido do telúrico profundamente arreigado no gesto, de uma crença inabalável no divino. Como as marcas de uma vida, cada traço de cor que a artista espalha na tela é sinónimo do respeito pela individualidade do ser humano e pela sua dignidade enquanto pessoa. Ao mesmo tempo, fala-nos da revolta e do inconformismo de um espírito livre e do seu grito de denúncia que clama por mais justiça, equidade e humanidade.

Dividida em duas partes, “Paisagens Humanas” propõe um diálogo entre tempos, geografias e realidades. De um lado, retratos de um povo com as suas memórias, e autores portugueses, figuras que moldaram o nosso pensamento e a nossa cultura, capturados na sua essência e presença imortalizada. Do outro, rostos de crianças e mulheres em situação de conflito e deslocamento, habitantes de paisagens marcadas pela guerra, pela perda e pela resistência. Entre a celebração e a denúncia, a memória e a urgência do presente, o olhar do visitante é obrigado a transitar entre diferentes dimensões da existência humana, as pinceladas como uma interrogação sobre as histórias que cada rosto abriga ou o futuro que cada paisagem humana é capaz de desenhar. Homenageadas ou simplesmente evocadas em poemas visuais de grande expressão e significado, as figuras que nos observam ao longo das duas vastas galerias são a expressão da força e do poder da arte em quebrar silêncios, convidando-nos a ver, a sentir e, acima de tudo, a agir.

Abraçar com o olhar, de uma só vez, Florbela Espanca e José Afonso, Natália Correia e Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner e José Saramago, Júlio Resende e Agustina Bessa-Luís, e tantos, tantos outros vultos maiores da nossa cultura, leva-nos por caminhos de orgulho e brio, alguma vaidade, muita integridade e nobreza. Mas estendamos os olhos para todos os outros rostos que, anónimos, nos observam também. Rostos em quem vemos um pai ou uma mãe, um irmão ou um avô, mesmo que não reconheçamos neles aqueles que, pelo sangue, são nossos. São eles que juntam o pão que cozem, a terra que semeiam, as casas que erguem ou o peixe que apanham, ou que, simplesmente, sobrevivem do lado de cá do Mediterrâneo, tão perto e tão longe da “terra prometida”, tendo por denominadores comuns a guerra, a fome e o medo. Mas é também de esperança a pintura de Maria do Carmo Vieira, levando-nos a crer que os sorrisos se voltarão a acender nos rostos dos que sofrem e que todos voltaremos a dar as mãos num mundo livre de preconceitos, mais justo e melhor.

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