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quarta-feira, 12 de março de 2025

EXPOSIÇÃO DE PINTURA: "Deambulaia" | André Gigante



EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Deambulaia”,
de André Gigante
Árvore – Cooperativa de Actividades Artísticas
22 Fev > 15 Mar 2025


Apresentada pela primeira vez na Fundação Escultor José Rodrigues, em Junho de 2018, a mostra de pintura “Deambulaia”, de André Gigante, prossegue um caminho de itinerância dinâmico e vivo, voltando a apresentar-se no Porto, na luminosa galeria de exposições da Cooperativa Árvore. Firmemente enraizada no abstracionismo, com uma forte matriz expressionista, “Deambulaia” propõe-se desafiar os sentidos do visitante por meio de cores vivas e traços enérgicos que são aqui sinónimos de alegria, exaltação e liberdade. Nas texturas e nos matizes, no que mostra e no que sugere, na forma como as obras “dialogam” entre si e como interpelam o visitante, esta é uma série de trabalhos que traz consigo a surpresa a cada novo olhar, se oferece a um desvendar sereno e se abre ao interior de cada um pela forma como convoca e enlaça histórias e memórias e lança um convite à viagem e à descoberta.

“Deambulaia” tanto pode ser um passeio calmo e recolhido pela beira do mar ou o acompanhar do voo errático de um bando de estorninhos, uma andorinha que se eleva elegante e veloz ou uma mão que se abre a uma outra que se estende, os mastros agitados numa tarde de temporal ou o bater ritmado do coração. Excitados ante a surpresa, maravilhados ante a descoberta, mergulhamos o olhar no conjunto de trabalhos expostos e descobrimos um promontório rochoso que abriga uma baía de águas calmas, redes que se recolhem carregadas de promessas, o voo geométrico dos corvos-marinhos, artes de pesca espalhadas no areal, uma baleia no seu mergulho em apneia, uma onda que se desfaz em espuma ao chegar à praia, o grito louco das gaivotas. É esse o nosso olhar. Um olhar sem tempo, que é de agora, mas que é também de um tempo de memórias felizes. Nesse turbilhão, com tanto de inquietação como de fascínio, o visitante acaba, irremediavelmente, por se ver envolvido. Preso, mas livre.

Na pintura de André Gigante percebe-se com nitidez o seu olhar de fotógrafo, a obra como um detalhe, parte reduzida de um todo que se estende para lá da tela, que não está lá, mas está, ao mesmo tempo. Há nela, também, o seu lado de arquitecto, um conceito geométrico muito próprio que se evidencia em matéria de espaço, profundidade e proporção. Num tempo em que as fórmulas imperam sobre exercícios gastos pelo imediatismo das tendências, será possível ser livre sem a mente o ser? Diálogo aberto com o imaginário de cada um, “Deambulaia” é uma espécie de metamorfose transfigurada na individualidade do ser e que nos convida a descobrir o que se abriga do lado de lá do estereótipo, dos lugares comuns onde habitam os limites da percepção e nos confronta com dimensões, escalas, formas e espaços, tempos e histórias, sentimentos e tensões, ritmos e sonoridades. A série é um convite à nossa própria viagem, espaço de entrega e deambulação, ponto de encontro entre o deliberado e o aleatório, o meio do termo a meio do intelecto. Para ver só até ao próximo sábado.

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