LUGARES: Museu Medeiros e Almeida
Rua Rosa Araújo, 41 - Lisboa
Horários | Segunda a sábado, das 10h00 às 17h00
Ingressos | Bilhete normal € 6,00 (entrada livre no primeiro sábado de cada mês, entre as 10h00 e as 13h00)
Situado no centro de Lisboa, o Museu Medeiros e Almeida (1895-1986) oferece ao visitante a possibilidade de apreciar as peças mais significativas da colecção de artes decorativas desta que foi uma prestigiada figura no plano empresarial português. A colecção distribui-se por duas áreas diferenciadas: a Ala Antiga, habitada pelos donos da casa e que foi mantida tal como estava, e a Ala Nova, construída sobre o jardim e formada por ambientes reconstituídos com recurso a apainelados, tetos pintados e decoração de aparato. Nas suas vinte e sete salas, expõem-se obras de arte nacionais e estrangeiras que incluem mobiliário, pintura, escultura, têxteis, ourivesaria, cerâmica, arte sacra e leques, num arco temporal que abrange do século II a.C. ao século XX. No hall do Museu, duas peças escultóricas prendem a atenção do visitante: São os bustos em mármore de António de Medeiros e Almeida e de sua mulher Margarida, realizados em 1972 por Leopoldo de Almeida, um dos mais prestigiados escultores portugueses. Casados desde 1924, sem filhos, viveram nesta casa de 1946 até 1971, quando se mudaram para a moradia ao lado, depois do início das obras do museu. Empresário de sucesso, dedicou-se à importação de carros (Morris), à aviação, à produção de açúcar e álcool a partir da beterraba sacarina, à indústria de navegação, têxtil e hoteleira. Pragmático, como na vida profissional, António de Medeiros e Almeida estipulou a forma de financiamento do Museu, permitindo-lhe ser sustentável até à actualidade.
Com o seu altar em talha dourada e azulejos portugueses do século XVIII, a Capela é um dos primeiros espaços que se abrem ao visitante e que prendem a sua atenção. É aqui que se reúne a colecção de arte sacra, onde avulta um conjunto de esmaltes de Limoges, paramentos litúrgicos, alguma escultura medieval inglesa e, sobretudo, um púlpito indo-português, intensamente colorido, seguindo as formas do barroco europeu a que se junta a tradição escultórica popular local. Executado entre 1710 e 1759, pertenceu à Capela de Nossa Senhora do Monte, em Velha Goa, cuja construção foi iniciada em 1510 e onde ainda hoje permanecem o seu espaldar e baldaquino. No átrio Linke encontramos quatro peças de François Linke, duas das quais estiveram presentes na Exposição Universal de Paris de 1900: o móvel de aparato e o relógio de caixa alta. Também ali encontramos um carrinho de passeio infantil, português, que era conduzido pela criança e empurrado por um criado e que pertenceu ao filho do Arthur Wellesley, 1.º duque de Wellington. A sala das tapeçarias recria o ambiente dos salões franceses e nela se destacam as tapeçarias “O Camelo” e “Oferta a Pã”, pertencentes à armação “Os Grotescos”, criada sob a direção de Philippe Béhgale e produzida a partir de 1688-89. O seu interesse deve-se à novidade da decoração, uma composição cénica povoada de personagens exóticas, fauna e flora e arquitecturas efémeras, numa leveza ornamental até então desconhecida.
A sala do Piano tenta igualmente recriar um ambiente francês e nas suas paredes, forradas com painéis de carvalho, destacam-se o retrato de “Velho com Espada”, de Giandomenico Tiepolo ou ainda o retrato de Rembrandt, de autor desconhecido. Ainda nesta sala, avulta o belo piano francês da Casa Erard, de 1898. Na Sala dos Esmaltes o olhar recai sobre o cofre de aparato, composto por 51 placas de cristal de rocha lapidado e gravado, cuja decoração, nos inusitados e intensos verdes, laranjas e turquesas, bem como nos elementos geométricos, anuncia já a estética Arte Nova. No Salão A, assim designado, o retrato de Amédée Berny d’Ouville, pintado por Eugène Delacroix, prende a nossa atenção, tal como um relógio francês do reinado de Luís XVI, cujos símbolos reais escaparam à revolução francesa, como por exemplo o pêndulo que representa o Rei-Sol. Num espaço contíguo, a mesa de quatro tampos descreve o que de melhor se fez na marcenaria do século XVIII português: a sua elaborada concepção, as proporções graciosas aliadas aos delicados entalhamentos e ao minucioso trabalho de embutidos, ilustram a delicadeza do mobiliário rococó do reinado de D. José I. No corredor de entrada o olhar do visitante assenta nas oito pinturas a óleo sobre tábua do pintor Jan van Goyen, representando vários tipos de paisagem: marinhas, campo, rios, dunas, gelo, praias, vistas de cidades e cenas de quotidiano.
A Sala dos Leques expõe parte da colecção de 210 leques reunida por António Medeiros e Almeida, caracterizando-se pelo ecletismo de materiais, tipologias, origens e temáticas, havendo exemplares em papel, marfim, pele, madrepérola, seda, tartaruga ou penas. Na casa de banho de António Medeiros e Almeida (existe uma outra do outro lado do quarto de dormir do casal, pertencendo a sua mulher), a atenção do visitante vai para o aparelho de ginástica, vindo dos Estados Unidos nos anos sessenta, e que reflecte as preocupações com a saúde do seu proprietário. Usada no dia a dia e em ocasiões formais, a sala de jantar constitui uma das poucas exceções no panorama estilístico da casa, porque decorada com predominância de mobiliário de origem inglesa. Junto a uma das portas da sala, pode ser visto um plano de mesa manuscrito por António Medeiros e Almeida, para o jantar de cerimónia oferecido aos príncipes do Mónaco, Rainier e Grace, em 16 de Abril de 1964. No Salão D, para além de “Arquimedes”, figura de grandes dimensões do atelier de José de Ribera, observam-se dois trabalhos de pintores flamengos: “A Paragem”, de Jan Brueghel, que retrata uma cena quotidiana junto a uma hospedaria, e “O Cobrador de Impostos”, uma pintura do seu irmão Peter Brueghel, de 1634, que é uma crítica declarada à situação de exploração do povo holandês durante o governo de ocupação de Filipe II de Espanha.
A sumptuosa Sala do Lago apresenta paredes revestidas a azulejos portugueses do século XVIII, que recriam, em cada canto, as Quatro Estações, e ao fundo os Quatro Continentes. Provenientes do Convento dos Inglesinhos, em Carnide, são inspirados em gravuras francesas, datando da primeira metade do século XVIII. O tecto, de origem portuguesa, em madeira pintada, representa igualmente Os Quatro Continentes. Ao centro da sala, dispõe-se um lago em mármore italiano rosa de Verona. À sua volta, as vitrinas contêm caixas de tabaco em materiais preciosos e porcelana da China, bem como a colecção de jóias do casal. No lado oposto, o conjunto escultórico em chumbo representa a cena bíblica na qual Sansão mata um Filisteu com uma queixada de burro. Trata-se de uma reprodução inglesa da escultura do século XVI encomendada pelos Medici de Florença ao seu escultor de eleição, Giambologna. Recheada de vitrinas, a Sala dos Relógios apresenta cerca de duzentos relógios dos mais de seiscentos que compõem a colecção. Impressionante é a vitrina Breguet, na qual é possível apreciar um relógio de bolso que foi pertença do General Jean-Andoche Junot. A elegância discreta, assim como, a assinatura “secreta” e numeração das mesmas que caracterizaram a sua produção, são bem visíveis neste exemplar. O relógio de bolso transforma-se em relógio de mesa ao ser introduzido numa caixa de metal dourado guilhochado e em relógio de viagem quando guardado num estojo de mogno.
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