EXPOSIÇÃO: “Às Armas ou às Urnas”
Organização | Estrutura de Missão para as Comemorações do Quinquagésimo Aniversário da Revolução de 25 de Abril de 1974
Coordenação Geral | Maria Inácia Rezola, Marta Lourenço
Curadoria, textos e investigação | Bruno Cardoso Reis, David Castaño, Gonçalo Margato
Concepção e museografia | António Viana
Museu Nacional de História Natural e da Ciência
26 Set 2024 > 16 Fev 2025
Portugal acordou, na madrugada do dia 25 de abril de 1974, ouvindo na rádio comunicados de um até aí desconhecido Movimento das Forças Armadas. Os militares estavam nas ruas, mas as dúvidas persistiram durante horas: seria para derrubar ou para endurecer o regime? Seria para pôr fim à guerra contra os movimentos independentistas de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau ou para a intensificar? Por África, tinham passado, desde 1961, cerca de 800.000 soldados e os combates tinham provocado milhares de vitimas civis e militares, entre portugueses e africanos. Como qualquer guerra de guerrilha, esta não tinha solução militar convencional. Além de representar mais de 20% dos gastos do Estado, começara a afetar significativamente a capacidade de recrutamento de oficiais do quadro, o problema que esteve directamente na origem do MFA. O movimento começou por reunir oficiais para defenderem a sua carreira, que, depois, concordaram que o fundamental era pôr fim à guerra e ao regime, temendo a repetição do que sucedera com a ocupação indiana de Goa, em 1961: serem culpados por uma derrota previsível.
A operação «Fim de Regime» foi um golpe militar clássico para controlar as sedes dos poderes do Estado e infra-estruturas críticas. Planeada e executada por militares, não deve ser ignorada a influência dos opositores civis, que tinham combatido a ditadura durante décadas de violenta repressão, dando sinais de renovado vigor com o Congresso de Aveiro, em abril de 1973, de onde saiu a tese dos três D - Descolonizar, Democratizar, Desenvolver - incorporada no Programa do MFA. No final do dia 25 de abril, a RTP transmitiu imagens da Junta de Salvação Nacional, orgão máximo de uma nova estrutura provisória de poder militar e político, mas as grandes questões sobre o futuro continuavam por responder. Nos meses seguintes, assistiu-se a uma multiplicação de propostas alternativas para o futuro do pais, tendo o MFA acabado por assumir um papel militar e politico preponderante, o que conduziu a um longo processo de transição para uma democracia plena no modelo da Europa Ocidental, concluído em 1982. É a história desta transição, marcada por dois períodos distintos, que “Às Armas ou às Urnas” nos conta.
Apoiada em inúmeros documentos - onde não faltam a pintura de Nikias Skapinakis ou de Maria Helena Vieira da Silva, a fotografia de Alfredo Cunha, as primeiras páginas dos principais jornais nacionais, excertos de peças televisivas, cartazes de propaganda política e até um disco dos GNR e um cartoon de António, entre outros -, a exposição viaja pela nossa história comum, destacando os anos de 1974 e 1975, a adesão popular ao 25 de Abril, o primeiro 1º de Maio e as primeiras eleições livres. Sob o signo da instabilidade, a descolonização, o verão quente de 1975, o 25 de Novembro e o 11 de Março, a morte de Francisco Sá Carneiro ou a entrada do FMI, são outros dos assuntos estruturantes da mostra. A institucionalização da democracia, a revisão constitucional de 1982 e o movimento de adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia fecham, por assim dizer, o conjunto de temas em destaque. Aula aberta sobre o 25 de Abril, “Às Armas ou às Urnas” será, porventura, a melhor exposição sobre o mais relevante momento social e político da nossa história que pude presenciar. No Museu Nacional de História Natural e da Ciência, só até ao próximo dia 16 de Fevereiro.
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