CINEMA: “Maria”
Realização | Pablo Larraín
Argumento | Steven Knight
Fotografia | Ed Lachman
Montagem | Sofía Subercaseaux
Interpretação | Angelina Jolie, Pierfrancesco Favino, Alba Rohrwacher, Haluk Bilginer, Kodi Smit-McPhee, Stpehen Ashfield, Valeria Golino, Caspar Phillipson, Lydia Koniordou, Vincent Macaigne, Aggelina Papadopoulou, Erophilie Panagiotarea, Jörg Westphal
Produção | Maren Ade, Jonas Dornbach, Simone Gattoni, Janine Jackowski, Juan de Dios Larraín, Pablo Larraín, Lorenzo Mieli
Itália, Alemanha, Chile, Estados Unidos | 2024 | Drama, Biografia | 124 Minutos | Maiores de 12 Anos
Vida Ovar Castello Lopes
19 Jan 2025 | dom | 19:05
Maria Callas nasceu em Nova Iorque, em 1923, no seio de uma família de imigrantes gregos. Desde cedo revelou um grande talento para o canto, o que a levou a abandonar os EUA, em 1937, para estudar no Conservatório de Atenas com a reconhecida soprano espanhola Elvira de Hidalgo. Regressou aos Estados Unidos da América em 1945 e, seis anos depois, fez a sua estreia no prestigiado La Scala, em Milão. A sua voz poderosa e a sua versatilidade dramática e lírica fizeram dela uma grande diva da ópera e uma das sopranos mais famosas do mundo. Callas ganhou notoriedade também pela vida pessoal, nomeadamente graças à sua relação amorosa com o milionário grego Aristóteles Onassis. Ainda hoje a sua reputação tem tanto a ver com o desempenho profissional como com o seu temperamento tempestuoso e volátil. Jaz agora no centro de uma sumptuosa sala, o seu corpo a dizer o quanto a morte pode ser ainda mais pesada, inclassificável, indizível. Uma das maiores artistas de todos os tempos, finalmente livre para cantar a sua obra, a sua vida, num derradeiro acto de liberdade.
16 de Setembro de 1977. O mundo toma conhecimento da morte de Maria Callas, aos 53 anos, no seu apartamento em Paris. Centrado na última semana de vida da cantora lírica, “Maria” é o terceiro de uma série de filmes biográficos com a assinatura de Pablo Larraín, depois de “Jackie”, de 2016, e “Spencer”, de 2021. Três figuras, três mulheres muito diferentes, enjauladas, isoladas, incompreendidas, muitas vezes sozinhas e muitas vezes esmagadas por expectativas, estereótipos e tempos imaturos e conservadores. Larraín mostra-nos o seu mundo num momento preciso das suas vidas, quando os holofotes estão distraídos, a atenção é menos penetrante, na crença de que já não existem quaisquer armadilhas, quaisquer prisões que as possam reter. Com argumento de Steven Knight e fotografia de Ed Lachman, o resultado final é uma pomposa sessão de instantâneos com Angelina Jolie no centro das atenções, em busca de uma aproximação notoriamente desafiante e complexa àquela que é considerada, de forma praticamente consensual, como a melhor cantora de ópera de todos os tempos.
Reflexo elegíaco de uma vida contada através de vários flashbacks à medida que Callas desliza para uma espécie de loucura enquanto sofre de insuficiência cardíaca e hepática graves, o filme ressente-se de uma injustificada inércia, as emoções de angústia, culpa, arrependimento e orgulho ferido a carecerem de verdade. A razão de ser deste “soar a falso” encontra-se na própria Angelina Jolie, incapaz de se ocultar a si mesma ao encarnar a Callas, fruto da simetria evidente entre a vida das duas mulheres. Seguimos as imagens no ecrã e quem vemos é Jolie, bela e glamourosa, e não uma Maria Callas gravemente doente. Ela vive e habita a personagem, parecendo conhecer os seus demónios e abismos, a sua vulnerabilidade, mas as fissuras numa máscara perfeita nunca são devidamente exploradas, com uma Jolie muito longe de conseguir restaurar a complexidade, os dramas de uma vida ofuscada e determinada por numerosos acontecimentos trágicos, tal como são recordados numa entrevista que parece só existir na sua cabeça. Apesar de alguns momentos muito belos, “Maria” acaba por se revelar um filme inóquo e de certa forma inverosímil. Um filme falhado.
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