EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Finding Home”,
de Gonçalo Fonseca
Encontros da Imagem de Braga
Casa da Cultura de Avintes
05 Out > 03 Nov 2024
Ainda que a exposição tenha encerrado no passado fim de semana, vale a pena “espreitar” a obra de Gonçalo Fonseca, parte integrante da colecção dos Encontros da Imagem e que, à semelhança do que acontecera em Julho do ano passado, quando esteve presente na Galeria da Estação, marcou um momento significativo na presente edição do Festival. A mostra remete para Dezembro de 2021, altura em que um grande número de refugiados afegãos encontraram um novo lar em Portugal, com a esperança renovada de que a música voltasse a encher os corredores do seu Instituto e que o medo do palco fosse o único receio que os seus estudantes enfrentassem. Recorde-se que antes da tomada do poder pelos Talibãs no Afeganistão, o Instituto Nacional de Música do Afeganistão (ANIM) tocava nas salas de concerto mais renomadas do mundo. Em 2021, com a retirada das tropas dos EUA do país, o ANIM foi ocupado e os instrumentos destruídos. Nas salas de aula, nos corredores, no espaço exterior, instalou-se o silêncio. E o medo.
Na sequência de um complexo processo, alunos e professores foram resgatados com a ajuda do violoncelista Yo Yo Ma e o governo do Qatar. No final de 2021 chegavam, em segurança, a Portugal, com a perspectiva de verem os seus chegar logo a seguir. A espera, em Lisboa, foi longa – demasiado longa para adolescentes – e os familiares nunca mais chegaram. Até que as coisas começaram a mexer. Os mais novos foram acolhidos em Braga. Outro grupo acabou por ser recebido pelo Município de Guimarães, ao abrigo do programa “Guimarães Acolhe”. Perguntar-lhes como se sentem é um esforço vão. Estão sempre “bem”, mesmo quando a cara diz o contrário, mesmo naqueles raros momentos em que se expõem e deixam aperceber olhos lacrimejantes, mesmo quando têm no bolso um bilhete para, no dia seguinte, deixarem a nova casa e a nova escola com a intenção de irem para longe e não mais voltar.
Com o Afeganistão agora uma sociedade silenciosa, um grande peso foi colocado sobre este grupo de refugiados. Eles são os guardiões das tradições musicais afegãs, assegurando que os sons antigos do seu país continuem a ser ouvidos no futuro. A sua regeneração na Europa é algo pelo qual lutam, vivendo como refugiados numa terra estranha. São os dilemas e as barreiras, todo um conjunto de atitudes reveladores do tremendo choque cultural e da desinserção social, que Gonçalo Fonseca traz ao nosso encontro, num projecto documental de grande valor e interesse. No rosto dos retratados, percebemos a força da ligação às raízes. Igualmente forte é a preocupação com quem ficou para trás. As imagens de um quotidiano feito de dúvidas e contradições desfilam ao nosso olhar numa sequência que inspira admiração e solidariedade. “O meu sonho é manter a música afegã viva”, diz Shogufa Safi, de 18 anos, maestrina da Orquestra Zhora, composta inteiramente por mulheres. Mas há ainda o sonho comum de poderem regressar ao País natal. “Mas em os talibãs”, dizem.
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