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sábado, 12 de outubro de 2024

EXPOSIÇÃO DE PINTURA: "Os Lugares de Nadir"



EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Os Lugares de Nadir”,
de Nadir Afonso
Curadoria | Óscar Faria
Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso
11 Ago 2023 > 15 Fev 2025


“Os lugares de Nadir” é uma exposição que tem a intenção de dar a ver os lugares visitados e imaginados por Nadir Afonso (1920-2013) através de seis dezenas de pinturas, uma centena de estudos, bem como material documental, algum do qual inédito, nomeadamente fotografias. As viagens do artista levaram-no a viajar e a conhecer uma grande parte do mundo, muitas vezes levado pelo impulso de uma conversa, outras por necessidades de trabalho e de aprendizagem. Brasil, ex-União Soviética, Egipto, Grécia, países escandinavos ou Líbano - neste caso após ter lido um texto do escritor romeno Panait Istrati - foram lugares que serviram para o pintor continuar as suas investigações acerca de problemas relacionados com a composição dos trabalhos por si assinados, que queria exactos na sua dimensão geométrica. Nadir Afonso apropria-se assim das cidades para expandir a vocação universal da sua obra, uma escolha a que não será certamente alheio o facto de ser também arquitecto, tendo trabalhado nos ateliês de Le Corbusier e Óscar Niemeyer.

O percurso expositivo de “Os lugares de Nadir” é cronológico, começando nos anos de 1950, com obras do período perspéctico, até ao início deste século, com trabalhos da fase fractal. Com esta mostra, defende-se a tese de que apesar de Nadir Afonso ser uma figura maior quer do surrealismo, quer do abstraccionismo geométrico, a sua obra é também relevante do ponto de vista conceptual, tendo mesmo aberto caminhos para uma nova “figuração geométrica”, plena de cores e ritmos, a qual the permitiu dar conta da vida das cidades. Ao olhar para os estudos, gouaches e pinturas do artista, sente-se um ritmo, uma vibração quase musical. Essa dimensão vai-se tornando cada vez mais complexa, num movimento que curiosamente aproxima Nadir Afonso quer de Wassily Kandinsky, quer de lannis Xenakis, com quem chegou a conviver em Paris. O trabalho de Nadir Afonso pode ser assim lido, quer a partir das teses marxistas, quer da “teoria do reflexo”, elaborada por Lenine nos seus “Cadernos Filosóficos”, segundo a qual o psíquico, a consciência, o espírito é “a função do cérebro, a reflexão do mundo exterior”.

A obra do artista flaviense, que abandona a prática da arquitectura em 1965, para se dedicar exclusivamente à pintura, é devedora quer da matemática, quer do materialismo dialéctico, na sua versão estética. Vemos então, sobretudo a partir dos anos de 1970, Nadir Afonso a expandir a sua gramática pictórica para territórios que se afastam paulatinamente do abstraccionismo geométrico, embora a presença de elementos abstractos seja uma constante até ao fim da vida do artista. Nadir Afonso começou por desenhar cidades verdadeiras, mas acabou por prescindir das mesmas, recorrendo à sua habilidade manual e apreendendo a essência plástica do “genius loci”. É esse espírito do lugar, das cidades, das paisagens urbanas, que se dá a ver na actual exposição do Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso. O próprio edifício desenhado por Siza Vieira participa dessa ancorarem de Nadir Afonso a uma realidade que lhe foi sempre próxima: a da cidade de Chaves, com as histórias que se acumularam, ao longo dos séculos, nas duas margens do rio Tâmega.

[Texto baseado na Folha de Sala que da exposição]

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