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quinta-feira, 24 de outubro de 2024

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Oran" | Margot Wallard



EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Oran”,
de Margot Wallard
Curadoria | Elina Heikka
Encontros da Imagem de Braga 2024
Galeria do Paço - UMinho
21 Set > 26 Out 2024


Qual é o legado do colonialismo? Como se manifestam atualmente as consequências do colonialismo europeu? Na edição deste ano, o festival Encontros da Imagem explora os legados do colonialismo numa perspetiva geográfica e historicamente alargada, não se centrando apenas no passado colonial de Portugal e das suas antigas colónias. Na certeza de que o legado do colonialismo ainda vive no nosso meio – nas mentes das pessoas, na vida quotidiana, nas estruturas socioeconómicas da sociedade, nas várias formas de racismo, intolerância e violência –, fotógrafos de mais de dez países partilham a oportunidade de reflectir sobre as características da expansão imperialista e colonial europeia. A experiência legítima de injustiça histórica é uma força motriz importante para os projectos fotográficos e um elemento comum a todos os fotógrafos. Para muitos deles, os temas dos seus projectos fotográficos surgem da sua própria história familiar e experiência pessoal, enquanto outros abordam a história colonial de uma perspetiva mais ampla, discutindo a história de um país ou de uma nação.

“Oran”, de Margot Wallard, é uma das exposições que se abrigam no seio de “Legados do Colonialismo”. Nascida em 1978, em Paris, a fotógrafa tem raízes argelinas e era o país o Norte de África o tema de conversa das reuniões familiares. Verdadeiro pilar da família, a sua avó falava diariamente da Argélia e era obcecada por esse país, ao qual nunca tinha regressado. Nesta série, a neta de “pieds-noirs” explora os arquivos da família após a morte de uma das avós e parte, pela primeira vez em 2018, no encalço das pegadas da sua família, para uma cidade que só conhece através das histórias da avó. Rapidamente se deixa levar pela cidade e pelas suas gentes. Frequenta um dos únicos cafés da cidade onde se misturam raparigas e rapazes e lá faz amigos. Youcef, Réda, Nora, Issam, Mouaadh, mudaram o rumo do seu projeto e a sua abordagem à cidade.

“Oran” é uma demonstração de apego a um espaço que não é apenas um marco geográfico. É lá que Margot Wallard centra toda a sua atenção, focando-se nas pessoas, no momento presente e naquilo porque estão a passar. Nas suas conversas aborda essencialmente a vida quotidiana dos jovens e os seus problemas. Inevitavelmente, acaba por perceber a ambiguidade da sua relação com Oran: uma relação forte devido às memórias familiares, contudo fraca porque essas mesmas memórias pertencem a um passado que não lhe diz directamente respeito e do qual os argelinos se querem livrar, por já não corresponder à sua realidade. A sua abordagem pessoal e individual choca com esta realidade e mostra-lhe a fragilidade e a impossibilidade de escrever uma história partilhada, mas Wallard não desiste de a contar. “Oran” é simultaneamente uma tentativa de reconstruir uma história pessoal e familiar, e a história de dois países e dois povos, muitas vezes transformada, truncada ou fantasiada, mas sempre destinada a ser partilhada, questionada e reapropriada pelo espectador e pela artista.

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