CERTAME: Encontros da Imagem - Festival Internacional de Fotografia e Artes Visuais 2024
Braga, Barcelos, Guimarães, Porto e Avintes (vários locais)
20 Set > 03 Nov 2024
Neste regresso à 34ª edição dos Encontros da Imagem, deixamos para trás a cidade de Braga e dirijimos os passos até Avintes e ao Porto, ao encontro de um conjunto de exposições espalhadas por espaços que são já familiares àqueles que acompanham o certame. Na Leica Gallery Porto, Kit Young apresenta “Rêverie”, belíssima série fotográfica que desafia a percepção e memória de quem as vê, deixando no ar a dúvida se seremos meros espectadores de uma realidade vivida por outrem, ou se fazemos, nós próprios, parte daquelas imagens. “De repente é como se estivéssemos lá, com o nosso subconsciente a experimentar memórias alheias apropriando-nos delas, inebriados pela atmosfera de sonho para a qual somos transportados”, pode ler-se na folha de sala da exposição. Descendo a Campanhã, o muito dinâmico Mira Forum dá a ver “Sem Passado”, projecto de Felícia Pinho Oliveira que se debruça sobre o arquivo da Casa da Roda do Porto e as memórias de quem por lá passou. Baseado num imenso espólio de mais de cento e oitenta metros de documentação, patente nos livros da Roda e no Arquivo Distrital do Porto, “Sem Passado” propõe retratar a estética de abandono do século XIX e recuperar a memória de crianças duplamente negligenciadas: Pela Sociedade e pela História.
O IPCI - Instituto de Produção Cultural e Imagem acolhe “Woman Go No’Gree”, de Gloria Oyarzabal. Trata-se de uma reexposição da obra da fotógrafa espanhola num ano em que os Encontros da Imagem se centram nos “Legados do Colonialismo”. Vencedora dos Discovery Awards em 2018, a presença da artista naquele caloroso percurso inaugural marcou de forma indelével essa edição. Volta a fazê-lo este ano, emergindo com grande impacto, trazendo-nos uma narrativa e imagens impossíveis de esquecer. Potente e provocadora, a sua obra é um renovado desafio às convenções, lançando luz sobre questões urgentes e que não podem continuar a ser negligenciadas. Não muito longe do IPCI, a galeria Salut au Monde! é palco de “Loucos por Regressar ao Paraíso”, projecto documental de Cecília de Fátima centrado no movimento sazonal de visita dos emigrantes portugueses às aldeias de origem em Agosto. Um retrato cru e sensível das tensões culturais e emocionais que resultam de quotidianos divididos entre diferentes países. “Sem Princípio Nem Fim”, de Cristiana Ortiga, pode ser visto no Blues Photography Studio e parte do desejo profundo de partilhar um olhar que a artista sempre acalentou. Intensos e vivos, os olhares carregados e profundos das pessoas retratadas dão a ver, por inteiro, uma artista particularmente sensível, apaixonada pela vida e pelos ideais de Liberdade.
“Arqueologia do Presente” é a exposição que toma conta do espaço Adorna e nela Marco Rocha responde a uma clara vontade de realizar um levantamento topográfico do seu quotidiano. Adoptando uma metodologia de extremo rigor na definição das paisagens e artefactos estéticos enquanto apropriação cultural do território, o fotógrafo oferece-nos um conjunto de imagens dúbias que nos deixam em suspenso, com a sensação que aconteceu algo, de que não identificamos o tempo nem o propósito. Uma opção de Marco Rocha carregada de intencionalidade, optando por uma linha discursiva que arrisca exigir ao observador uma atenção extrema e a capacidade de poder pensar imageticamente e unicamente com ferramentas próprias da fotografia. Já na margem sul do rio Douro, na simpática Vila de Avintes, a Casa da Cultura Francisco Marques Rodrigues Júnior é o palco de “Finding Home”, de Gonçalo Fonseca. Trata-se, também, da reexposição de uma obra que é parte integrante da coleção dos Encontros da Imagem e que chegou à coleção através da Galeria da Estação, um espaço gerido pela Associação Encontros da Imagem e dedicado à promoção de novos artistas portugueses, onde foi exposta no ano passado. Uma oportunidade única para ver ou rever o conjunto de imagens que documenta o quotidiano dos elementos da Orquestra Zhora, constituída unicamente por refugiadas afegãs que encontraram em Portugal um novo lar.
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