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sábado, 7 de setembro de 2024

CINEMA: "O Homem da Câmara de Filmar"



CINEMA: “O Homem da Câmara de Filmar” / “The Cameraman”
Realização | Buster Keaton, Edward Sedgwick
Argumento | Clyde Bruckman, Lew Lipton, Byron Morgan
Fotografia | Reggie Lanning, Elgin Lessley
Montagem | Hugh Wynn, Basil Wrangell
Interpretação: Buster Keaton, Marceline Day, Harold Goodwin, Sidney Bracey, Harry Gribbon, Richard Alexander, Edward Brophy, Ray Cooke, Vernon Dent, Gertrude Ederle, William Irving, Harry Keaton, Louise Keaton, Charles A. Lindbergh, Bert Moorhouse, Jack Raymond
Produção | Buster Keaton, Lawrence Weingarten
Estados Unidos | 1928 | Comédia, Drama, Romance | 85 Minutos | Maiores de 12 anos
Batalha Centro de Cinema
07 Set 2024 | sab | 15:15


Embora sem o reconhecimento de “Sherlock Holmes Jr.”, “O Marinheiro de Água Doce” ou “Pamplinas Maquinista”, “O Homem da Câmara de Filmar” não deixa de ser um extraordinário filme. Considerado unanimemente como o último grande trabalho de uma vasta obra enquanto actor, argumentista e realizador, este é o primeiro filme sob a alçada dos estúdios da MGM, um passo que custou caro a Keaton, que viria a roubar-lhe a independência e que redundaria, nas suas próprias palavras, no maior erro da sua vida. Mas se a interferência dos patrões da MGM provocou alguns danos ao filme, a verdade é que não conseguiu destrui-lo e “O Homem da Câmara de Filmar” recebeu a aclamação da crítica e do público, rendendo a maior receita de bilheteria da carreira do realizador. Partilhando a realização do filme com Edward Sedgwick, Buster Keaton teve a possibilidade de, enquanto personagem principal do filme, fazer aquilo que melhor sabia, ou seja, improvisar e, na maior parte do tempo, garantir que as coisas corressem de forma espontânea e livre (algo que não voltaria a acontecer com os filmes seguintes).

Buster Keaton é um fotógrafo de rua que se apaixona perdidamente por uma funcionária da equipa de noticiários da MGM, Sally (Marceline Day). Trocar a câmara fotográfica por uma de filmar e procurar garantir um emprego nos estúdios para estar próximo de Sally e conquistá-la será o passo seguinte. Encorajado a acompanhar os fotógrafos regulares dos noticiários, Buster prepara-se para filmar um violento incêndio que deflagra no armazém de Manhattan, mas um conjunto de peripécias fará com que o seu propósito não chegue a concretizar-se. E depois há Stagg (Harold Gowin), fanfarrão incontornável, que tem também Sally debaixo de olho e não está ali para facilitar a vida a Buster. Repleto de situações hilariantes – inesquecíveis os momentos num vestiário demasiado pequeno para duas pessoas que querem vestir um fato de banho, da guerra de gangues no coração de Chinatown ou de um macaco por detrás da câmara de filmar -, o filme encerrará com uma grande parada depois de um arrojado salvamento no mar.

Eis um filme com a marca ineludível de Buster Keaton. Desde as situações mais inverosímeis em que se deixa envolver, ao domínio do corpo e às capacidades acrobáticas, tudo com o sentido da maior precisão e rigor, Buster Keaton mostra que o seu filme não é uma mera sequência de vinhetas, embora a história careça de alguma coesão. Os cinco minutos ou mais gastos com Buster imitando um jogo de beisebol num estádio dos Yankees totalmente vazio são absolutamente supérfluos, mas tudo isso faz parte da diversão. Infelizmente, como referido acima, a marca MGM fez prevalecer a sua força, incapaz de entender os métodos de trabalho de Buster Keaton, a espontaneidade livre do seu processo criativo, a sua expressão inexpressiva. Desde então, a qualidade dos seus filmes não cessou de cair, arrastando o cineasta para a pobreza e para o alcoolismo, antes da sua redescoberta na década de 1960. Fica-nos “O Homem da Câmara de Filmar”, um filme que se vê e revê com enorme prazer e um testemunho inestimável do poder imortal da grande comédia.

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