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terça-feira, 27 de agosto de 2024

EXPOSIÇÃO: "Silvestre Pestana - Um Artista de Contraciclos"



EXPOSIÇÃO: “Silvestre Pestana – Um Artista de Contraciclos”,
de Silvestre Pestana
Curadoria | Joana Valsassina
Organização | Fundação de Serralves – Museu de Arte Contemporânea, Porto
Galeria Solar da Porta dos Figos – Casa do Artista, Lamego
09 Jul > 13 Out 2024


Nascido no Funchal, Madeira, em 1949, Silvestre Pestana é uma das figuras mais radicais da arte contemporânea portuguesa. Poeta, artista plástico e performer, criou desde os finais dos anos 1960 uma obra singular através de uma grande diversidade de disciplinas, tendo-se revelado desde o final dos anos 1970 um agente fundamental do circuito artístico independente do Porto. A primeira grande exposição da sua obra foi realizada em 2016 no Museu de Arte Contemporânea de Serralves. A partir de obras recentemente integradas na Coleção de Serralves, bem como obras pertencentes ao artista, a exposição que pode agora ser vista na Galeria Solar da Porta dos Figos – Casa do Artista, em Lamego, sublinha o seu uso pioneiro do desenho, da colagem, da fotografia, da escultura, da instalação, do vídeo e da performance, para um confronto entre sociedade, arte e tecnologia.

Distribuída por três espaços distintos, a exposição “Silvestre Pestana – Um Artista de Contraciclos” começa com a instalação “PO_gif_EMAS”, de 2019, conjunto de sete elementos (carros de compras, monitores, animações, gif, som) que dá a ver o artista na sua dimensão de utilizador das tecnologias mais recentes. No piso intermédio, importa atentar nos desenhos da série “Pautas” (1975), os quais funcionam como uma síntese do plano de acção e da pesquisa artística de Silvestre Pestana. Particularmente significativos, os dois trabalhos da série “Auto-estimulação”, apresentados como “meios de codificação”, remetem para essa aproximação inicial à tecnologia, relevando a ideia de um circuito eletrónico do qual o corpo também faz parte. “Geo-Psico-Verso” (1980) e “UNI VER SÓ” (1985), os dois vídeo-poemas apresentados, são exemplares notáveis do vanguardismo de Pestana nesta área no Portugal dos anos 1970 e 1980, utilizando-os como veículo em direto da prática poética e da acção performativa. São vídeos crus, não editados, que simultaneamente dessacralizam o processo artístico e refutam as convenções da videoarte e da imagem cinematográfica.

A relação entre a performance, os poemas gráficos e a escultura sai reforçada pela utilização de produtos industriais como instrumentos da problemática artística e como ferramentas para transmitir inquietações políticas e os dilemas da identidade nacional. Silvestre Pestana não se limita a explorar os vários meios que utiliza no seu trabalho. Vai mais além: procura, com eles, criar novas formas e enunciar uma nova linguagem, num constante sobressalto intelectual, num recorrente questionamento e compromisso político (“A cada etapa o seu medium, a cada tempo o seu instrumento, a cada saber a sua objetivação”). Inscreve-se nesta filosofia a obra “Radiologias” (1979), que ocupa o último piso do edifício, e que é composta por um conjunto de caixas de luz que apresentam poemas construídos sobre radiografias clínicas, revelando como a linguagem visual do artista é parte integrante do seu corpo. A intermitência da fonte de luz destas “Radiologias” parece apontar para a fragilidade do(s) sistema(s) em questão – físico, social, político, tecnológico – conferindo-lhes uma qualidade elegíaca, como “vanitas” do contemporâneo.

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