CINEMA: “Mais Que Nunca” / “Plus que Jamais”
Realização | Emily Atef
Argumento | Emily Atef, Lars Hubrich
Fotografia | Yves Cape
Montagem | Sandie Bompar, Hansjörg Weißbrich
Interpretação | Vicky Krieps, Gaspard Ulliel, Bjørn Floberg, Sophie Langevin, Valérie Bodson, Jérémy Barbier d'Hiver, Marion Cadeau, Yacine Sif El Islam, Estelle Kerkor, Nathalie Man, Baptiste Girard, Tom Linton, Bess Davies, Matthieu Chedid, Jesper Christensen
Produção | Xénia Maingot
França, Alemanha, Noruega, Luxemburgo | 2022 | Drama, Romance | 123 Minutos | Maiores de 14 anos
UCI Arrábida 20 – Sala 4
05 Ago 2024 | seg | 16:15
Quando Hélène fica a saber que tem fibrose pulmonar idiopática, uma doença pulmonar gravíssima, o mundo em seu redor parece desabar. O círculo familiar, os amigos e ela própria mostram-se incapazes de encarar a nova realidade e lidar adequadamente com a situação. Com os nervos à flor da pele, os momentos de conflitualidade agudizam-se e nem mesmo a perspectiva de poder vir a ser encontrado um dador de pulmão compatível que possa prolongar-lhe a vida a tranquiliza. A única fonte de consolação e apaziguamento parece ser o blogue de um norueguês, autodenominado “Mister”, onde são relatadas as suas próprias experiências com uma doença grave. Hélène decide, então, empreender uma longa viagem para o Norte ao encontro desse desconhecido, determinada a, com a sua ajuda, descobrir as respostas às questões que a si mesma se coloca e perceber de que forma deverá encarar o futuro.
A lista de filmes que nos trazem histórias dramáticas é imensa, mas este filme tem uma particularidade que o distancia da generalidade dos seus congéneres e o torna particularmente interessante. Em “Mais Que Nunca”, a realizadora está menos interessada nas questões específicas da doença e na sua progressão até um fim inexorável, antes centra a atenção na forma como as pessoas lidam com os seus efeitos. De um quotidiano sobrecarregado que nos afasta daqueles que nos são próximos, ao sentimento esmagador de obrigação em permanecer ao lado da pessoa, mesmo que tal resulte num doloroso processo auto-punitivo, de tudo um pouco o filme trata, levantando questões, desfazendo estigmas e convidando à reflexão. Afinal, a ideia de que “alguém morreu em casa rodeado dos seus entes queridos” continua a ser um preceito social olhado com admiração, ao passo que romper com as convenções gera constrangimentos e levanta os reparos da sociedade.
Estreado em Cannes, na secção Un Certain Regard, “Mais Que Nunca” não se inclui em qualquer corrente de “auto-ajuda”, tão pouco advoga a ideia de estabelecer padrões para uma morte “correcta”. Pelo contrário, funciona como uma espécie de convite à reflexão sobre uma das experiências mais íntimas da vida de uma pessoa, a consciência de finitude e o caminhar lento, mas firme, para o momento da despedida. Isso significará, inevitavelmente, a certeza de que serão sempre mais as questões às quais nunca saberemos responder, do que aquelas que podemos admitir no rol das nossas maiores certezas. Acima de tudo, o filme é uma história de amor de duas pessoas que estão a aprender a separar-se após anos felizes de vida em comum. Entre a proximidade e a distância, a felicidade e a dor, esta é a história de um grande amor que chega ao fim e que, em simultâneo, busca a melhor forma de se perpetuar.
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