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domingo, 25 de agosto de 2024

CERTAME: Bienal de Fotografia Lamego e Vale do Varosa 2024



CERTAME: Bienal de Fotografia Lamego e Vale do Varosa 2024
Vários autores
Curadoria | Manuela Matos Monteiro, João Lafuente
Museu de Lamego, Castelo de Lamego, Casa da Torre, Mosteiro de Salzedas e Torre da Ucanha
20 Jul > 29 Dez 2024


Quando se junta a qualidade e sensibilidade curatorial de Manuela Matos Monteiro e João Lafuente, a nomes da fotografia tão admiráveis como os de Duarte Belo, Adelino Marques, Álvaro Domingues, Luís Quinta, Manuel Valente Alves, Conceição Magalhães, Augusto Lemos, Alexandre Delmar e José Zagalo Ilharco, nada como meter pernas ao caminho e demandar Lamego na certeza dos melhores encontros. Mas antes de falar daquilo que vi, vamos a um pouco de história, recuando a 2013, ano da criação do Ciclo de Fotografia do Museu de Lamego. Desse tempo fica o propósito inicial de divulgar a fotografia em todas as suas vertentes e, também, o formato de projecção nocturna ao ar livre no pátio do museu, que cedo se assumiu como uma das suas marcas distintivas. Dos movimentos mais recentes da fotografia portuguesa ao fotojornalismo, do lugar da fotografia no mundo contemporâneo à fotografia na arquitectura, foram muitos e bons os temas das edições seguintes do Ciclo, até que em 2019 foi decidido alargar o âmbito geográfico do certame ao Vale do Varosa, incluindo o Mosteiro de Salzedas, o Convento de Santo António de Ferreirim e a Torre de Ucanha no roteiro da 7ª edição. A pandemia foi a grande responsável pela interrupção do Ciclo em 2020, regressando em 2021 com sete exposições, repartidas pelo Museu de Lamego, Mosteiro de Salzedas e Torre de Ucanha. Aquilo que de diferente vamos encontrar em 2024 é a designação do certame - Bienal de Fotografia Lamego e Vale do Varosa - e o assumir de uma nova periodicidade para estes encontros.

Inaugurada a 20 de Julho, a Bienal abraça “A Paisagem” como tema desta edição, assumindo tratar-se de “muito mais do que o cenário onde decorre a vida humana.” Para além da dimensão estética inerente às propostas expositivas, interessou aos curadores Manuela Matos Monteiro e João Lafuente que as obras apresentadas produzissem uma reflexão crítica sobre o papel do humano – coletivo e individual – no desenho da paisagem e na forma como quotidianamente a habitamos. Nesse sentido, foram convidados alguns dos mais importantes autores portugueses que fotografam e refletem sobre a paisagem, fazendo do conjunto das onze exposições que integram a Bienal uma viagem “entre o maravilhamento e a inquietação que serão a base de uma reflexão crítica sobre a nossa relação com o mundo.” Começando a visita pelo Castelo de Lamego, as portas da Torre de Menagem abrem-se à fotografia de Adelino Marques e àquilo que designa por “metamorfoses de uma paisagem”, numa exposição intitulada “Da Evanescência das Marés à Intemporalidade dos Lugares”. São duas formas de olhar a paisagem, num misto de racionalidade e poesia que prende e emociona. Na parte superior da Torre, “O Signo e a Paisagem”, de Conceição Magalhães e Augusto Lemos, serve-se da muito mediatizada N2 para falar de “um olhar simbólico e um imenso imaginário” inerentes à cultura humana, adoptando como símbolo ou signo os marcos rodoviários.

Descendo a Rua da Cisterna até à Casa da Torre, “Paisagens Tecnológicas”, de Álvaro Domingues, abre-se ao nosso olhar. dando a ver um conjunto de imagens que mostram o território como construção social, “um retalho do mundo que, como escreveu Camões, é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades”. Já no Museu de Lamego, começamos por admirar a imensa colecção de imagens de Duarte Belo que retratam, desde 1996 até ao presente, Meadas, Lamego e Varosa. Intitulada “Linhas do Tempo”, esta exposição mostra como, em pouco mais de um quarto de século, a mão do homem pode induzir transformações tão profundas na paisagem. “A Invenção das Nuvens”, de Manuel Valente Alves, combina, de forma abstracta, fotografia, desenho e pintura, acentuando o conceito de paisagem através das nuvens que são, também elas, paisagem. O fascínio pelo mar e pela energia que nele se desenvolve e irrompe à superfície serviu de pretexto a Luís Quinta para nos dar a ver “Prados Azuis”, tão somente “o mar, a superfície do mar acessível ao olhar de todos, um mar azul mas que pode ser dourado como se estivesse pronto a ser colhido.” De José Zagalo Ilharco, “Paisagem” reúne um conjunto precioso de imagens dos primórdios da fotografia em Portugal. Por último, no Mosteiro de Salzedas, “Paisagens do Mundo”, uma mostra colectiva que reúne fotógrafos portugueses e estrangeiros, oferece-nos a paisagem como tema. A cores ou a preto e branco, de vários tamanhos ou formatos, documentais ou encenadas, são imagens, todas elas, de enorme beleza, que justificam plenamente um desvio até Salzedas.

NOTA: Não falo aqui de Alexandre Delmar e da sua exposição “Paisagem | Território | Trabalho”, resultado de uma residência artística, patente na Torre de Ucanha, por não ter sido possível visitar este pólo que se encontra encerrado ao domingo.

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