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sexta-feira, 7 de junho de 2024

EXPOSIÇÃO: "L - Luta e Liberdade"



EXPOSIÇÃO: “L - Luta e Liberdade”,
de Adélia Oliveira, Filomena Bettencourt, João Católico, Maria Branca Silva, Maria José Valente, Ricardo Pinho, Sara Alves, Vitória Castanho
Coordenação | Maria João Cartaxo
Museu Júlio Dinis
23 Mar > 21 Set 2024


Chama-se “Projeto L - Livros, Luta e Liberdade” e foi a forma encontrada pelo Agrupamento de Escolas de Ovar Sul para, com o apoio e envolvimento da Câmara Municipal de Ovar, se associar às comemorações dos 50 anos do 25 de Abril. Alertar para a necessidade diária e premente de proteger a liberdade e a democracia é um dos seus objectivos primordiais, dele fazendo parte um conjunto de iniciativas que, das mais variadas formas, convidam à participação e à cidadania activa dos ovarenses. Cinema, teatro, dança, música, literatura e artes plásticas são vectores de um projecto que traz para primeiro plano a liberdade de expressão e faz de cada artista um mensageiro da reflexão crítica em prol da sociedade. Inscreve-se nesta linha a exposição “L - Luta e Liberdade” - assim como as visitas orientadas, performances e tertúlias que lhe estão associadas -, reunindo no Museu Júlio Dinis um conjunto de trabalhos desenvolvidos por docentes / artistas do Agrupamento. Uma dessas iniciativas foi a visita orientada e comentada pelos autores, realizada ao final da tarde do dia 29 de Maio, e que ofereceu a possibilidade aos participantes de terem uma outra visão sobre os trabalhos, descortinar os seus significados e perceber os diferentes processos criativos nos quais se baseiam.

Das palavras iniciais, proferidas pela coordenadora do projecto, Maria João Cartaxo, infere-se uma grande cumplicidade entre aqueles que abraçaram o desafio de se juntarem ao projecto e de dar corpo à exposição. Adélia Oliveira, a primeira convidada a falar do seu trabalho e da forma como se inscreve no ideário de Abril, oferece-nos uma imagem poética de libertação, a partir de duas figuras estilizadas que dialogam entre si e com o espaço exterior do Museu. É uma peça muito bela, passível de ser lida de forma metafórica graças ao antes e depois, ao dentro e fora ou ao preto e branco e à cor que nela se evidenciam. Filomena Bettencourt opta, através da pintura, pela conjugação de várias expressões artísticas, tomando como fonte de inspiração os poemas “Livre”, de Carlos de Oliveira, e “As Palavras”, de Manuel Alegre, dois hinos à liberdade de pensamento, enquadrados pelo lápis azul da censura e pelos cravos que brotam dos canos das armas. Maria Branca Silva propõem uma leitura diferente das palavras “liberdade”, “luta”, “expressão”, “igualdade”, “justiça e “democracia”, bem como da frase “ninguém cala esta revolta”. É esta frase que, dialogando com o cravo que se vê a ficar sem pétalas, a perder a vida e a cor, nos lembra que a liberdade nunca é um valor garantido e que precisa de ser cuidada diariamente.

Num outro espaço do Museu Júlio Dinis, Ricardo Pinho apresenta um trabalho de 2006 desenvolvido de forma quase artesanal, podendo relacionar-se com um mosaico bizantino ou com um bordado em ponto de cruz. Parte integrante de uma série de trabalhos de cariz pessoal, foi escolhida pelo seu autor pelo sentimento de raiva que dele transparece e que funciona como resposta ao esquecimento a que parecem votadas as conquistas de Abril. Vitória Castanho junta num mesmo trabalho a paixão pela fotografia e aquele que, no dizer da artista, é o Herói do nosso país: Salgueiro Maia. Por fim, Maria José Valente traz-nos um conjunto escultórico em arame, composto por um vasto conjunto de figuras que, de olhos e bocas bem abertos, parecem clamar que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos”. Ausente da visita, João Católico é o autor do logótipo do projecto e desenvolveu um vídeo de apresentação que pode ser visto na sala a abrir a exposição. Também ausente, Sara Alves oferece-nos uma malha desenhada sobre papel, na qual a bidimensionalidade adquire um tom tridimensional. É um trabalho de grande impacto visual, que pede que atentemos no detalhe e que retira a sua energia da persistência e do gesto, duas “virtudes adormecidas” que se afirmam e que importa valorizar nestes tempos imprevisíveis que são os nossos.

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