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domingo, 16 de junho de 2024

CONCERTO: Tiago Bettencourt



CONCERTO: Tiago Bettencourt
Com Banda Filarmónica Ovarense e Sociedade Musical Boa União
Direcção musical | Bruno Pereira, Tiago Correia
Centro de Artes de Ovar
15 Jun 2024 | sab | 21:30


“Há muita gente na sala que vem pela primeira vez a um concerto meu, não há?”. Estávamos a meio do concerto e a nota era de desconcerto. Sentado ao piano, pela primeira vez sem o suporte da banda, Tiago Bettencourt estava à espera do momento em que se calaria e o público entoaria, em uníssono, “morena no fundo quer tempo para ser mulher / morena não sabe bem, mas eu no fundo sei / que quando o véu lhe cai, quando o calor lhe vem / sempre que a noite quer, sonha comigo também”. Esse momento não veio e a pergunta surgiu de forma natural, com uma pontinha de ironia mas, sobretudo, com a humildade e a delicadeza de quem pressente que o público teria, na sua maioria, uma relação familiar com um (ou mais) músico(s) das bandas e que não estaria ali apenas pelo convidado. Isto não significa que o concerto tenha sido morno ou que o público não soltasse a garganta. Só não o terá feito mais cedo ou, pelo menos, nos momentos em que o músico esperaria mais entusiasmo, outra reacção.

Num Centro de Artes de Ovar com lotação esgotada, os primeiros vinte minutos estiveram por conta desta “filarmonia de fusão”, que recebeu a contribuição de músicos de duas das mais representativas e prestigiadas colectividades do concelho de Ovar: a Banda Filarmónica Ovarense, fundada em 1811, e a Sociedade Musical Boa União, mais nova 78 anos que a sua congénere. Revezando-se na direcção musical, Bruno Pereira e Tiago Correia emprestaram ao agrupamento toda a sua sensibilidade e energia, pautando a actuação por momentos de enorme riqueza musical em arranjos de grande frescura, ritmo e harmonia. Homenagem a António Variações, quando passam quarenta anos sobre a data do seu falecimento, “Canção de Engate” foi o primeiro tema interpretado por Tiago Bettencourt e também o único que cantou sem ser em nome próprio. Seguiu-se um conjunto de canções que são ícones da produção artística do cantor e que marcam duas décadas de carreira a solo, nomeadamente “Maria”, “Se Me Deixasses Ser”, “Trégua”, “Fúria e Paz” e “ O Jogo”.

Dispensando a banda, apenas com o apoio do baterista João Lencastre (que também deu uma mãozinha no piano), Tiago Bettencourt cantou a já referida “Morena” e pôs de parte “Eu Esperei”, a canção que se seguiria no alinhamento, para abrir ao público a possibilidade de escolher a música seguinte, indo ao encontro dos seus gostos. Foi assim que se escutou “O Jardim”, sem o assobio “escangalhado” de Carolina Torres, mas com a plateia a agitar-se e a entoar, ainda que timidamente, “não vês que é para nós o jardim que nos faz olhar / que este rio faz crescer quem fica / e faz voltar o que tens porque é meu”. “Caminho de Voltar” preparou o final do espectáculo, que teve em “Carta” o seu ponto alto, a sala inteira a cantar “é que hoje acordei e lembrei-me / que sou mago feiticeiro / que a minha bola de cristal é folha de papel / e nela te pinto nua, nua / numa chama minha e tua”. Com o público a ensaiar novos pedidos, “Viagem” viriam a escutar-se no encore, tal como “Dança” a fechar da melhor forma um belo concerto. Por mim, fica a promessa de voltar a escutar Tiago Bettencourt, sempre que a oportunidade surja.

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