Páginas

terça-feira, 28 de maio de 2024

CINEMA: "A Natureza do Amor"



CINEMA: “A Natureza do Amor” / “Simple comme Sylvain”
Realização | Monia Chokri
Argumento | Monia Chokri
Fotografia | André Turpin
Montagem | Pauline Gaillard
Interpretação | Magalie Lépine Blondeau, Pierre-Yves Cardinal, Francis-William Rhéaume, Monia Chokri, Steve Laplante, Marie-Ginette Guay, Micheline Lanctôt, Guillaume Laurin, Linda Sorgini, Mathieu Baron, Christine Beaulieu, Lubna Playoust, Johanna Toretto
Produção | Sylvain Corbeil, Nancy Grant, Elisha Karmitz, Nathanaël Karmitz
Canadá, França | 2023 | Comédia, Drama, Romance | 110 Minutos | Maiores de 14 anos
UCI Arrábida 20 – Sala 4
27 Mai 2024 | seg | 16:50


Sophia e Xavier são casados há dez anos, têm uma vida social preenchida, partilham o gosto pelas coisas boas da vida, mas sabem que a paixão que nutrem um pelo outro perde fulgor a cada dia. A chegada de Sylvain para as obras de manutenção da casa de campo irá representar o momento de viragem na vida do casal. É o início de uma relação adúltera avassaladora, o contraponto excitante a um quotidiano aborrecido, feito de compromissos conjugais, sociais e profissionais. Tomada por um turbilhão de emoções, Sophia decide abraçar a felicidade de um novo relacionamento e dar uma volta à sua vida, deixando Xavier para trás e entregando-se por inteiro a Sylvain. É o virar as costas a uma vida entediante e ao snobismo dos amigos, face a um presente onde não fatam as refeições em família pontuadas por bem-humorados insultos ou este homem terno e delicado, capaz de se declarar de joelhos e estender, com a maior candura, um anel muito simples e uma passagem de avião para um destino de segunda classe.

Mistura de melodrama e comédia romântica, “A Natureza do Amor” abre-se a um mundo dividido por classes, as diferenças sociais mascaradas pelo fingimento das boas regras de etiqueta. Face às enormes diferenças de pensamento e de capacidade de expressão entre Sophia e Sylvain, a tensão instala-se de forma pesada, levando-nos a compreender o esforço do casal em segurar o seu relacionamento amoroso face ao mundo que o rodeia. Com um estilo que leva ao extremo o romantismo e, ao mesmo tempo, a carga sexual, Monia Chokri explora habilmente os planos gerais onde pontificam paisagens marinhas povoadas de gaivotas, cujo voo faz acompanhar por uma música redundante, contrastando esses momentos de pleno idílio com planos de câmara muito próximos dos rostos dos protagonistas durante a excitação ou no paroxismo de um orgasmo. É uma forma de levar o espectador a fundir-se com a trama e a abraçar a possibilidade de empatizar com os protagonistas, ambos carentes de amor e compreensão.

Vemos o filme e entendemos que Monia Chokri tem uma tese principal sobre “a natureza do amor”, assunto que a realizadora vê como “missão impossível” quando de um relacionamento amoroso se trata, a exaltação dos momentos iniciais a ceder lugar, com o tempo, à frustração e ao desamor. Ao remeter para essa ideia de simplicidade, como o próprio título original do filme expressa, Chokri faz assentar a sua tese naquilo a que a protagonista almeja desde o início, cansada que está da burguesia intelectual e preconceituosa que a rodeia, das demonstrações de sabedoria balofa em ridículas competições para ver quem sabe mais, almejando pelos suspiros e arrepios que são “o sal da vida”. Entre Spinoza e Schopenhauer, Bell Hooks e Platão, a realizadora afirma a coerência da sua tese num final de certa forma inesperado, mas credível. Sem cedências ao estereótipo e à caricatura no tratamento dado às personagens, “A Natureza do Amor” acaba por ser um convite à reflexão sobre o tema das relações amorosas e que tem nos protagonistas um trunfo maior.

Sem comentários:

Enviar um comentário