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domingo, 11 de junho de 2023

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Deslocamentos"


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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Deslocamentos”,
de vários artistas
Curadoria | Pablo Berástegui
Bienal ’23 Fotografia do Porto
P.Artes - Politécnico do Porto
20 Mai > 27 Jun 2023


Numa parceria com o Mestrado em Fotografia Documental da Universidade de South Wales, a Bienal ’23 apresenta “Desclocamentos”, exposição que envolve projectos de dez artistas. Partindo do conceito de deslocamento enquanto movimento não escolhido, os ensaios visuais reunidos nesta exposição incluem abordagens diversas de deslocamentos, relacionados com o território, com os vínculos familiares, com a propriedade física ou do pensamento, com as relações inter-espécies, propondo uma reflexão sobre problemáticas comuns a partir do lugar singular de cada um. Com curadoria de Pablo Berástegui, a exposição tem como ponto de partida “Um Grau Razoável de Probabilidade”, um trabalho de Tudor Etchells, advogado especializado em lidar com o altamente burocratizado sistema de imigração do Reino Unido. Colocado no lugar do imigrante, o visitante é convidado a seguir um percurso e a representar um papel com uma performance que é interrogada. As questões vão-se insinuando e as exposições do colectivo também. Desde aquilo que poderemos considerar do foro político, económico e social, à invasão da intimidade, de tudo um pouco encontramos nas perguntas que vão surgindo num percurso orientado e que, na esmagadora maioria dos casos, esbarra numa sentença: repatriamento!

“Caminhando no verde (passando no áspero)”, de Adela Pérez, é um dos projectos que integram a mostra. Usando fotografia de natureza morta e imagens performativas baseadas no real e no imaginário, este projeto pessoal tem como foco a história da artista como mexicana e jogadora de golfe, a identidade feminina construída em torno do ambiente do golfe e os padrões de beleza que a sociedade dita. O objetivo é abordar a vulnerabilidade e o ambiente seguro das atividades desportivas e questionar as suposições feitas sobre o corpo em relação às proezas desportivas. Andrezza Vieira partilha uma história pessoal em “E a felicidade vai desabar sobre nós: Ditadura brasileira e como recuperar o passado”. Com ela vamos ao encontro dos vieses sistémicos da polícia brasileira, através de uma abordagem especulativa com arquivos institucionais e o próprio álbum pessoal de família da artista. Como artista com dupla nacionalidade, “O Nosso Quarto Oculto” explora a identidade de Mohamad Hassan, a complexidade da experiência humana e o legado de uma infância traumática e incerta, de viver num ambiente frágil e do desejo de escapar das memórias.

“Algum Segredo Brilha Metal”, de Dominique Arieu, começa como uma forma do artista se conectar com o seu pai e entender a sua paixão pela mineração. O resultado é uma exploração da terra e da geologia do Sudoeste da Cornualha, um projeto onde transita sozinho, e interroga os vestígios do passado mineiro, centrando-se no primitivo e no natural que são a terra e as rochas. Ao mesmo tempo, processa a dor e a perda do seu pai, entrando em estados emocionais profundos, que lhe permitem chegar a um inconsciente coletivo, onde pode lembrar-se, sem ter vivido diretamente certas experiências. Estudo fotográfico de animais em cativeiro e dos seus habitats em jardins zoológicos, “O problema com jardins zoológicos: um olhar sobre o lado selvagem”, de Gareth Davies, mostra que os recintos feitos de luz artificial e paredes pintadas a imitar florestas tropicais e savanas são um engano antropocêntrico para espécies não humanas inteligentes. O trabalho questiona as implicações psicológicas que esses mundos simulados podem ter nos animais domesticados e deixa uma pergunta: “Pode o ato dos humanos como espectadores que olham para os animais através de janelas de vidro, inadvertidamente ao longo do tempo, remodelar e enfraquecer a inteligência não humana?”

“Dongpo (동포)” significa irmãos, camaradas ou pessoas da mesma ascendência. É um termo coreano que tem uma qualidade transcendental e transnacional que abrange a ampla categoria de diáspora coreana ao redor do globo. New Malden, um subúrbio arborizado no sudoeste de Londres, é uma das áreas mais densamente povoadas por coreanos na Europa e é o coração pulsante e o nexo para os indivíduos da península coreana. Como um indivíduo nascido na Coreia, mas criado na Grã-Bretanha, esse processo de documentação imersiva é uma tentativa de Chan-yang Kim se reconectar com a sua herança coreana. O artista investiga a diáspora coreana e as margens de identidade que existem dentro de uma comunidade étnica migrante. Em “Hyperreal Estate”, Jack Wrigley trabalha narrativas de poder com um trabalho que procura reivindicar simbolicamente terras privadas de volta à esfera pública, mais concretamente os campos de golfe escoceses de Donald Trump. Misturando abordagens pluralistas e sabotando as estruturas narrativas tradicionais com formas e objetos que encorajam o diálogo matizado acima do ruído discursivo, o artista torna visíveis as falhas e deficiências das imagens, ao mesmo tempo em que aponta para a necessidade de desfazer o diálogo na política e na propriedade da terra.

Projecto informado pela conexão da avó de Maria Dogoda com o mundo exterior através da TV russa, “Verdades em Segunda Mão” reflete sobre uma realidade subvertida num mundo pós-verdade, dominado por média conflituosos em que predominam as verdades em segunda mão. Trabalhando de forma colaborativa, Maria Dogoda cria auto-retratos que navegam na complexa e conturbada relação com a autenticidade num mundo que passou a ser dominado pela tela. “Ser e tornar-se nos Alpes que derretem” transporta-nos a Gryon, uma estação de esqui nos Alpes suíços de língua francesa que tem sido a casa de Emma Pigott nos últimos 15 anos. Durante este período, a região teve alguns dos invernos mais secos já registados. Pigott utiliza fotogramas, desenvolvedores baseados em plantas, internet e cianótipos, como uma pluralidade de pensamento sobre o mundo e os problemas das mudanças climáticas. Procurando a colaboração de coisas que não são humanas - bolas de neve, pinheiros, webcams - a artista não espera ser neutra, mas aberta a ouvir o que os outros têm a dizer. Pergunta, com Ursula Le Guin, como podemos reaprender a estar no mundo para entender melhor o clima e os seus impactos nas comunidades locais. Ao fazer isso, Emma Pigott expressa o seu profundo amor e respeito pelas montanhas onde mora.

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