EXPOSIÇÃO: Retroactivar”
Curadoria | Loreta Castro Reguera e José Pablo Ambrosi
Trienal de Arquitectura de Lisboa 2022
Museu da Electricidade – Central Tejo
30 Set > 05 Dez 2022
Quatro exposições centrais, quatro livros, três prémios, três dias de conferências e uma selecção de projectos independentes. Também uma declaração de intenção e um apelo à acção. Assim é “Terra”, Trienal de Arquitectura de Lisboa, conjunto de eventos que, nesta sexta edição, denunciam os modelos de sistema fragmentado e linear que regem a criação de lugares neste nosso Planeta globalizado, apelando a uma mudança de paradigma para um modelo de sistema circular e holístico, motivado por um maior e mais profundo equilíbrio entre comunidades, recursos e processos. Com curadoria geral de Cristina Veríssimo e Diogo Burnay, a Trienal de Arquitectura de Lisboa 2022 sugere um reequacionamento do futuro a partir do cruzamento e intercâmbio de saberes e fazeres que possam coexistir, contribuindo para uma maior sustentabilidade do planeta e para a melhoria das condições de quem o habita. É nesse âmbito que se enquadra a exposição “Retroactivar”, visitada no penúltimo dia do certame com a preciosa ajuda de João Queiroz e Lima, do atelier CASCA Arquitectura e Design, responsáveis pelo desenho expositivo.
Actualmente, mais de metade da população mundial vive em áreas urbanas. Porém, a maior parte da estrutura em que se desenrola a vida dessas pessoas encontra-se deteriorada ou é inadequada. Debilitada. A energia incorporada nas cidades devido à avassaladora concentração de locais de trabalho, habitação, educação e cultura atrai um grande número de pessoas, mas não conduz a uma qualidade de vida equitativa. Efectivamente, as cidades contemporâneas são conhecidas por fragmentar e isolar o tecido social e habitantes que tentam aceder a condições de vida dignas. Mesmo nas cidades mais prósperas, são inúmeras as áreas da malha urbana formal ou dos subúrbios em que os serviços escasseiam, os transportes públicos são inadequados e abundam os espaços públicos degradados onde se verifica grande concentração de migrantes. Estas zonas desorganizadas, que podem ser ou não de natureza informal, constituem aquilo a que, nesta exposição, é referido como “cidade quebrada”. É aqui que a maior parte da actividade humana tem lugar a nível mundial. Por esse motivo, é urgente começar a examinar este fenómeno nos seus diferentes aspectos.
O Aeroporto de Tempelhof, actualmente o maior parque público de Berlim, o complexo de zonas húmidas do leste de Calcutá, os Matatu partilhados de Nairobi, o tratamento de resíduos de Surabaya, a reciclagem de peças arquitectónicas descartadas de San Diego usadas para construir habitações em Tijuana ou o espaço público Tapis Rouge, no Haiti, são exemplos de como um olhar atento sobre a cidade debilitada pode resultar na busca de soluções mediante a implementação de projectos que restaurem a dignidade espacial e o sentido de pertença das populações. Migração, propriedade fundiária, água, saneamento, sobrepopulação, resíduos, violência, mobilidade e vulnerabilidade geológica são temas prementes para os quais temos de olhar seriamente. A infra-estrutura Retroactiva, uma ferramenta de sutura da cidade debilitada que celebra a existência actual de infra-estruturas, a sua distribuição em todo o mundo e a sua possibilidade de transformação em espaços de habitação condignos, apela à acção em prol de todas as populações urbanas.
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