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quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Black Light"


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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Black Light”,
de Margaret Watkins
Curadoria | Anne Morin
Centro Cultural de Cascais
24 Set 2022 > 08 Jan 2023


Falar de Margaret Watkins é falar de alguém que é lembrado pelas suas contribuições inovadoras no campo da fotografia publicitária. A marca do seu génio, porém, vai muito além deste particular nicho, reconhecendo-se nela, hoje, uma figura determinante na activação de características específicas da linguagem fotográfica, permitindo que esta se tornasse, para parafrasear László Moholy-Nagy, num verdadeiro instrumento de expressão que nos ajuda a ver o mundo de outra forma, e não apenas num substituto mecânico da pintura. É isso que podemos perceber em “Black Light”, notável exposição retrospectiva da obra da fotógrafa, que até ao dia 08 de Janeiro de 2023 pode ser vista na Fundação Dom Luís I - Centro Cultural de Cascais. Retratos, paisagens, naturezas mortas, cenas de rua, trabalhos publicitários, desenhos comerciais e composições, constituem o corpo de uma mostra que engloba um conjunto de 121 imagens datadas entre 1914 e 1939, para além de documentação variada (revistas, cadernos), um documentário e uma câmera fotográfica que pertenceu à artista.

Nascida em Hamilton, na província de Ontário, em 1884, no seio de uma família de retalhistas abastados, Watkins, cedo revelou sensibilidade artística que, ainda durante a infância, desenvolveu através dos estudos de piano, do desenho e da poesia. Mais tarde, interessou-se também pela geologia, que viria a influenciar a narrativa e a textura da sua linguagem fotográfica, desenvolvida num mundo pleno de possibilidades pela diversidade de todas essas linguagens. Assim, estabeleceu um diálogo constante entre a Arte e a vida doméstica, cujo assunto e objeto se fundem num só, e utilizou este conceito ao longo da sua carreira, tanto no seu trabalho pessoal como nas suas imagens publicitárias. Watkins teve uma carreira notável como fotógrafa independente, que continuou a crescer durante os anos 20. As suas composições equilibradas e harmoniosas resultam de um extraordinário trabalho de manipulação das linhas curvas e das diferentes proporções entre o vazio e a plenitude. A sua obra ganhou visibilidade e notoriedade e foi alvo de várias exposições coletivas e individuais, a mais importante das quais teve lugar no Art Center, em Nova Iorque, em 1923.

Em 1928, Margaret Watkins decide visitar as tias em Glasgow, onde acabará por permanecer, para cuidar delas. A sua carreira entra em declínio e, embora tenha visitado outras cidades europeias na década de 30, tirando fotografias que demonstram a sua capacidade de antecipar as principais revoluções estéticas e conceptuais que se seguiriam, o trabalho da artista perdeu visibilidade de forma irremediável. Apanhada pelos eventos históricos em vésperas da Segunda Guerra Mundial, Watkins desistiu da sua carreira. Margaret Watkins morreu em Glasgow, em novembro de 1969. Pouco tempo antes, teve o cuidado de entregar ao seu jovem vizinho, Joseph Mulholland, uma caixa preta, selada, cheia de fotografias e negativos, sem o informar do conteúdo da mesma. Mulholland tornou-se, assim, por puro acaso, consignatário daquela vida incompleta, acabando por permitir que esta exposição retrospectiva da obra de Watkins se tornasse realidade. Esta visionária sem rosto e sem sombra merece o seu lugar ao lado dos grandes nomes da fotografia, para que a sua fugidia luz negra possa continuar a iluminar o caminho através do reino desconhecido da História.

[Baseado no texto curatorial de Anne Morin que acompanha a exposição]

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