Páginas

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

EXPOSIÇÃO DE PINTURA: "Menino do Coro"


[Clicar na imagem para ver mais fotos]

EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Menino do Coro”,
de Ricardo de Campos
Museu Municipal de Espinho
24 Set 2022 > 07 Jan 2023


“Menino do Coro”, a exposição que até ao próximo dia 07 de Janeiro está patente ao público na Galeria Amadeo de Souza-Cardoso do Museu Municipal de Espinho, lança um olhar sobre o conjunto da obra que o artista plástico monçanense Ricardo de Campos vem desenvolvendo ao longo do último quarto de século. Recorrendo a uma estreita paleta de cores, trabalhando sobre os mais diversos materiais e acrescentando à pintura técnicas como a colagem e o desenho, Ricardo de Campos propõe-nos a visão de um mundo refém de traumas e mitos, desordenado e anárquico, contraditório nos seus pressupostos, inconsistente e precário. Um mundo agitado e febril, a viver das aparências, amalgamado na sua ânsia ostentatória, o luxo e o lixo como faces de uma mesma moeda. Um mundo feito à imagem dos que o habitam, gente que olha para um lado e assobia para o outro, muito “Deus, Pátria e Família”, que não tem pejo em dizer que “é disto que o povo gosta”. Um mundo que é o do artista. E que é o nosso, também.

Há um sentido de transgressão que se espalha e contamina a pintura de Ricardo de Campos. Tanto de um ponto de vista formal quanto no seu conteúdo e nas mensagens que lhe estão associadas, percebe-se uma clara intenção de colocar em questão o cânone. “Turn Me”, uma das obras que primeiramente avistamos ao entrar na Galeria, é disso um bom exemplo. Aliada à pintura naturalista, a moldura remete para um todo classicista que o produto final contraria em absoluto, com as suas pinceladas a “esconderem” a maior parte do quadro, ao mesmo tempo que põem em evidência aquilo que geralmente fica na sombra. Transgressão que se acentua na forma como “vandaliza” várias das suas obras com inscrições sucedâneas do grafiti, na descaracterização que faz de um conjunto de sinais de trânsito, na apropriação de sapatos, bolsas, persianas, tijolos e outros suportes de uso doméstico aos quais oferece um cunho artístico, no voyeurismo que se debruça sobre a figura da mulher.

A mulher é outro dos elementos-chave na obra do pintor. Nas mais variadas poses, de blusa ou em sutiã, de biquini ou a mostrar os seios, cabeça erguida ou olhar no chão, altiva ou submissa, sentada ou por terra, sozinha ou na companhia de outras mulheres, a sua figura repete-se e multiplica-se, fonte de vida, sensualidade e beleza, ardente, intensa, irresistível. Praticamente ausente, a figura do homem apenas se insinua na medida em que destaca a preponderância da mulher, ao mesmo tempo que reforça a tónica voyeurista do imaginário de Ricardo de Campos. São as mulheres que, desenhadas de forma simples ou meramente esboçadas, ocupam os espaços em branco que emprestam às obras o seu ar inacabado. São delas os lábios que mergulham num beijo ou os rostos que se abrem num gesto de indiferença ou solidão, perdão ou suplica, desespero ou paixão, raiva ou pecado. São elas que, inteiras e livres, se mostram senhoras de si mesmas e do seu destino. E nós, “meninos do coro”, a vê-las passar.

Sem comentários:

Enviar um comentário