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sábado, 17 de dezembro de 2022

CONCERTO: Grupo Vocal Canto Décimo



CONCERTO: Grupo Vocal Canto Décimo
Festa de Natal e 25º Aniversário do Canto Décimo
Escola Secundária José Macedo Fragateiro
16 Dez 2022 | sab | 21:00


O primeiro trimestre do ano lectivo de 1997/98 chegava ao fim e, com o Natal à porta, uma turma ensaiada pelo Professor Guilhermino Monteiro mostrava trabalho. Simples, mas de enorme significado, aquela actuação na Sala dos Professores da Escola Secundária José Macedo Fragateiro seria o início de uma bela caminhada, pautada pelo gosto de cantar, pelos muitos momentos de partilha e amizade no seio do grupo, pela cumplicidade que uniu e une os seus elementos e, porque não dizê-lo, por uma carreira artística que se foi consolidando em apresentações de enorme sucesso nas mais variadas salas, de Norte a Sul do País. Ontem, 25 anos volvidos sobre esse 16 de Dezembro de 1997, o Grupo Vocal Canto Décimo regressou ao seu espaço natural, assinalando as Bodas de Prata e, ao mesmo tempo, festejando o Natal. Com ele vieram amigos de hoje e de sempre, às suas vozes juntaram-se as vozes e os aplausos de um público que quase esgotou a sala e a noite foi de festa e celebração.

“Conta-me um Conto”, pedes. Então cá vai. Se resumir a saudade própria, às “lembranças que doem ou fazem sorrir”, algures na linha do tempo irei encontrar, necessariamente, o Canto Décimo. Com ele vivi, no dia 01 de Dezembro de 2011, um dos momentos mais marcantes da minha vida. Depois de uma actuação para os doentes no refeitório do Hospital da Prelada, no Porto, o grupo aceitou deslocar-se à Unidade de Queimados para um breve momento musical. O que ali aconteceu é impossível de exprimir por palavras. Entre todos quantos viveram aquele momento de dádiva e partilha, creio não ser o único que me emociono sempre que o recordo. Escrever estas palavras é regressar àquele corredor estreito onde nos concentrámos, face a face com seis ou sete pessoas de quem nos separava um vidro e que, rodeadas de máquinas e de tubos e envoltas em ligaduras às quais nem o rosto escapava, faziam de cada segundo uma luta pela vida. Só uma mão acenava, mas aquele aceno foi a certeza de que a música entrou no coração de todos, levando com ela uma mensagem de esperança e fé. Com as vozes embargadas e os olhos rasos de lágrimas, os elementos do grupo ofereceram o que de melhor tinham, a sua solidariedade e o seu amor por quem tanto estava a sofrer.

Regressando à noite de ontem, de Manuela Branco foram as primeiras palavras. Palavras que enfatizaram momentos marcantes da vida do Canto Décimo, que lembraram aqueles que passaram pelo coro mas continuam no coração de todos e que foram de agradecimento, sobretudo ao seu Director Musical, Guilhermino Monteiro, a quem se deve a famosa frase (e cito de cor): “Que não comecem todos ao mesmo tempo, posso aceitar; que desafinem, ainda vá; mas, pelo menos, cantem todos a mesma canção.” A título de convidados, Regina Castro integrou o coro, Filipe Monteiro tomou conta da bateria e Octávio Fonseca e Pedro Ramajal acompanharam António Gonçalves nas violas. O concerto arrancou da melhor forma com “Adivinha” - “Quem se dá quem se recusa / Quem procura quem alcança / Quem defende quem acusa / Quem se gasta quem descansa” -, num abraço a José Saramago. Seguiram-se “Bai-te Labar Morena” e “Olhos Negros”, músicas tradicionais cantadas a cappella por Rosário Campos, Rosa Bela Cruz, Alfredo Oliveira e Guilhermino Monteiro. De José Afonso escutou-se “Por Trás Daquela Janela”, antes de uma sequência de temas compostos por João Lóio e que são peças fundamentais do repertório do Canto Décimo.

João Lóio veio depois ao palco e, ao lado de Regina Castro, cantou “No Coração do Vento”, “Gaivota” e a muito divertida “Marcha Brilhantina”. O público recusou ficar “armado em morcão” e, com palmas a compasso, juntou-se à festa naquele que foi um dos momentos altos do concerto. A parte final foi preenchida com os temas “Nasceu Já Nasceu”, “Peregrinación”, “José Embala o Menino” e “Campana Sobre Campana”, celebrando da melhor forma a quadra natalícia. Praticamente a finalizar, Rosário Campos protagonizou o mais alto momento da noite ao interpretar, de maneira sublime, a “Ave Maria”, de Caccini. Tocados pela harmonia e beleza da música e por uma voz transcendente, coro e público uniram-se num momento de intensa espiritualidade que a todos envolveu com emoção. “O Mundo Só Vai Prestar” colocou um ponto final num concerto que se prolongou nas mentes de todos muito para lá dos derradeiros aplausos. Cá fora, escura e ameaçadora, a noite preencheu-se de “doidos” arco íris, fitas de cor nos cabelos, estrelas que cantam e joguinhos de berlindes e conchinhas que guardámos nos nossos corações. A mensagem do Canto Décimo faz-se de certezas e vontades, de sonhos e teimas, de resistência e liberdade. No momento de soprarmos em conjunto as 25 velas, saibamos fazer nossa uma tão bela lição, gritando, alto e bom som, “venham mais (vinte e) cinco, duma assentada, que eu pago já”!

[Foto gentilmente cedida por Vitor Bonifácio]

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