Realização | Luis Moya
Argumento | Luis Moya
Fotografia | Luis Moya
Montagem | Luis Moya
Interpretação | Miguel Cerqueira, Nuno Norte, músicos de rua do Porto
Produção | António Costa Valente, Luis Moya
Portugal | 2020 | Documentário | 93 Minutos | Maiores de 14 Anos
Cinema Vida
09 Dez 2022 | sex | 18:15
“Todos os homens são livres à nascença. Se Deus existe, Deus é uma palavra. Essa palavra que nós estamos a passar. Porque nós somos tocadores de rua, nós somos filhos da rua, actualmente; mas amanhã somos filhos de Deus e somos todos iguais”. Na voz de um quase icónico músico de rua que há 20 anos faz furor em Santa Catarina, as palavras abrem o filme com a força da verdade. Essa mesma verdade que é o caminho mais curto entre o coração dos outros e o nosso próprio coração. O empenho que Luis Moya coloca em perseguir uma verdade que muitos teimam em não ver, em revesti-la de humanidade e bondade e em pousá-la no nosso colo como se de um presente por abrir se tratasse, acaba por ser o grande trunfo deste “Por Detrás da Moeda”. Ao longo de pouco mais de hora e meia, o realizador abraça com olhar terno os músicos de rua da cidade do Porto, desvendando as histórias que se abrigam à sombra daqueles que, a cada moeda caída na caixa, vão encontrando coragem para ultrapassar mais um dia.
Em “Por Detrás da Moeda”, Luis Moya convida-nos a conhecer melhor os músicos de rua que se espalham pela cidade. As suas origens são diversas, a música que fazem reparte-se por uma grande diversidade de géneros e estilos, os próprios instrumentos divergem entre si. Igual, mesmo, só a paixão pela música. É nela que vivem irmanados o cego do acordeão e o tocador de harmónica, os punks da baixa e o guitarrista do Jardim do Morro, o saxofonista brasileiro e a senhora do Leste que desfia a “Canção do Mar”. Nas cordas de uma viola esgalhadas como se não houvesse amanhã ou numa voz delicada e cristalina que entoa uma balada irlandesa, aprendemos que “o músico de rua é sempre verdadeiro”, um lutador que tem na música uma arma com a qual trava a guerra de todos os dias e não está disposto “a deixar que lhe comam as papas na cabeça”. Acompanhá-lo é mergulhar nas suas certezas e sonhos, tanto quanto nas suas dúvidas e nos seus maiores pesadelos. É, com ele, beber o alento num copo sem fundo, fazer de cada escolha um desafio e saber que hoje é o primeiro dia do resto da sua (e da nossa) vida. Então podemos confirmar aquilo que sempre soubemos: Aquela pessoa sou eu!
“O músico que toca na rua é o mesmo músico que toca num palco”. Quem o diz é Alex, certamente recordando os tempos em que ajudou a fundar a banda de rock Pippermint Twist nos anos 80 e que também chegou a tocar com os Xutos e Pontapés. Como que a corroborá-lo, Nuno Norte fala da sua experiência de músico de rua antes de ter vencido, em 2003, o programa “Ídolos” e de isso o ter ajudado a passar para os palcos. Entre um “Make Art Not War” e um “Que se Lixe a Troika”, o realizador explora da melhor forma a dualidade rua / palco, ao mesmo tempo homenageando a cidade do Porto em planos que se estendem ao sabor do tempo ou se metem uns nos outros graças a uma montagem em modo frenético. O final pode resultar lamechas, mas o espectador foi pondo de parte as suas defesas e abraçando de modo cúmplice cada uma destas pessoas que têm na rua a sua casa de espectáculos e nos transeuntes o seu público. Agora é tempo de beber as certezas num copo de vinho. “Por Detrás da Moeda” é verdade e autenticidade, é bondade e brandura, é compreensão e aceitação. E é do carago!
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