EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Nebulosa”,
de Diogo Marques, Ana Guilherme Ruano
Performance e Direcção Artística | Ana Guilherme Ruano
Produção Técnica e Audiovisual | Diogo Marques
Caixa de Dança ‘22
Centro de Arte de Ovar
30 Set > 25 Nov 2022
Chegou ao fim “Nebulosa”, exposição fotográfica de Diogo Marques e Ana Guilherme Ruano. Integrada na programação do Caixa de Dança | Festival de Dança de Ovar 2022, a mostra esteve patente ao longo de quase dois meses, preenchendo de cor e vida a belíssima galeria de exposições do Centro de Arte de Ovar. No último dia da exposição, os dois artistas receberam o público para uma derradeira visita orientada, proporcionando um extraordinário e enriquecedor momento de confraternização e transmissão de saber. Ao longo de quase uma hora, Diogo Marques e Ana Guilherme Ruano abordaram detalhadamente as várias fases do aparecimento desta “Nebulosa”, realçando a interdisciplinaridade inerente ao seu projecto e que reflecte “uma perspectiva muito pessoal do que a dança e os meios audiovisuais têm para oferecer enquanto processo criativo e artístico”. Com o entusiasmo próprio de quem revive as peripécias que envolveram a produção da mostra - do resultado surpreendente de muitas das imagens captadas à sempre difícil escolha entre o que é para mostrar e aquilo que se é obrigado a descartar -, os artistas foram de uma generosidade inexcedível ao partilharem as suas mais gratas memórias (e outras menos gratas), desvendando tudo aquilo que o processo teve de fortuito e imprevisto, de engenhoso e experimental, finalmente concretizado graças a um querer inabalável e à teimosia em fazer com que as coisas aconteçam.
De um ponto de vista técnico, “Nebulosa” baseia-se na chamada Light Painting Photography, combinação de arte e técnica nascida em França há mais de cento e trinta anos. Com efeito, foi em 1889, em pleno Bois de Boulogne, que Étienne-Jules Marey e Georges Demeny associaram aos seus estudos de fisiologia do movimento, todo um conjunto de técnicas fotográficas que incluíram a luz, obtendo a primeira “pintura” da história da fotografia. Marey foi, ainda, o primeiro artista a escrever com luz, a imagem captada com recurso a uma exposição longa. Poderíamos pensar que, com a evolução tecnológica e o aparecimento e desenvolvimento dos mais sofisticados meios técnicos para “pintar com luz”, esta técnica seria hoje enormemente explorada e este tipo de imagens estaria fortemente implantado no nosso quotidiano. A realidade, porém, é outra. Os materiais evoluíram, é certo, há programas de edição fotográfica que são capazes de “tudo e mais alguma coisa”, mas há muitos trabalhos que continuam a ser feitos numa base iminentemente experimental, com doses infinitas de imaginação, improviso, persistência e uma enorme paixão, como é o caso deste, em concreto. Mas terá valido a pena o esforço?
Na óptica do visitante da exposição, a resposta é claramente afirmativa. Pessoalmente, creio ser a primeira vez que vejo uma exposição fotográfica toda ela baseada no conceito de “pintar com luz” e foi com o entusiasmo de quem sabe estar a entrar em território desconhecido que explorei cada uma das imagens. Cuidadosamente montada, a exposição tem esse cunho primordial da luz, da cor e do movimento, elementos intimamente associados à dança. Daí que a presença de Ana Guilherme Ruano empreste uma enorme graça e expressividade às fotografias, vincando o alcance desta simbiose entre os géneros artísticos envolvidos. É admirável ver uma cascata de luz que se derrama sobre umas mãos ou se estende ao correr de um rosto, ver nuns arabescos luminosos o sublinhar de um gesto ou o prolongamento de um movimento corporal, apreciar uma pose feérica com girândolas de fogo em pano de fundo ou seguir com o olhar um corpo que parece levitar sobre um tapete de água multicolorido. Mas é igualmente fascinante perceber que a imagem certa surgiu de um disparo acidental do flash, que os milhares de pontos de luz resultam de um saltar à corda com luzes de natal a contar os segundos ou que há uma forte ligação entre a ideia transmitida de flutuação e o equilíbrio instável sobre um banco mergulhado na água. Muito bom!
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