Presença assídua nos palcos portugueses, Diane Reeves regressou ao nosso país com a responsabilidade de abrir a 31ª edição do Festival Internacional de Jazz de Guimarães. Pessoalmente, foi a oportunidade de voltar a escutá-la, cinco anos após esse momento magnífico na Casa da Música. Tal como acontecera no Porto, a cantora interpretou alguns dos maiores standards do jazz, de “Skylark”, da dupla Johnny Mercer e Hoagy Carmichael, a “(In My) Solitude”, de Duke Ellington, passando por “(Our) Love is Here to Stay”, de George e Ira Gershwin. Também aqui, a apresentação inicial dos extraordinários músicos que a acompanharam em palco - Edward Simon no piano, Romero Lubambo, na guitarra, Reuben Rogers no contrabaixo e Terreon Gully na bateria - foi feita toda ela em música e ritmo, numa afirmação daquilo que Diane Reeves entende como a melhor forma de comunicar com o seu público. O tom geral deste concerto, porém, teve muito a ver com ritmos próximos do samba, alicerçados na guitarra de Lubambo - “my brother from another mother”, nas palavras de Reeves -, na admiração confessa por nomes como os de Gilberto Gil e Milton Nascimento e naquilo que pode ser visto como uma homenagem a Gal Costa, falecida no dia anterior.
Depois de um tema instrumental, em jeito de “volta de aquecimento”, Diane Reeves irrompeu em palco para oferecer ao público que esgotou o CCVF a magia de temas tão intensos de significado como “Dreams”, “Minuano”, “I Remember” e “I'm All Smilles”, convocando memórias de paragens que tanto nos dizem e trazendo-nos a presença e a voz de Kurt Elling e Pat Metheny, Barbra Streisand e Rosa Passos. Veio depois o já referido “Skylark” e a plateia viu-se definitivamente rendida às extraordinárias qualidades e capacidades vocais da cantora, mais intensas e refinadas à medida que o tempo passa. Voz incontestada do jazz, como o atestam os cinco Grammys recebidos ao longo da sua carreira, Diane Reeves prosseguiu com um conjunto de temas onde ficou patente a cumplicidade com cada um dos seus músicos, em particular com Romero Lubambo, com quem a cantora encetou um diálogo que se prolongou no tempo e ficou marcado pela emoção que se desprende da doçura de uma voz combinada com a mestria e virtuosismo de um guitarrista de excelência.
Com a presença e o à-vontade de quem se sente realmente em casa, Dianne Reeves foi um verdadeiro espectáculo dentro do espectáculo. A força dos seus 66 anos permite-lhe falar com autoridade da actualidade que assola o planeta e invocar a tolerância, a bondade e a generosidade como valores a cultivar. Cativado, o público reagiu com emoção às palavras da cantora e com a mesma emoção fez questão de a acompanhar nas suas improvisações melódicas a uma segunda apresentação da banda, à qual os instrumentistas responderam com solos vibrantes que fizeram levantar a plateia. McCoy Tyner veio ao palco já no “encore”, só Diane Reeves e Romero Lubambo em palco, “You Taught My Heart to Sing” cantado com a emoção que só uma grande voz e um grande coração são capazes. Não será esta a única razão, mas a interpretação deste tema, a par de tudo o mais que se passou na noite do Vila Flor, bastariam para elevar Diane Reeves ao patamar das divas do jazz, ao lado de Etta James, Sarah Vaughan, Nina Simone, Natalie Cole, Aretha Franklin ou Ella Fitzgerald. Inesquecível!
[Foto: Centro Cultural Vila Flor | https://www.facebook.com/CCVF.Guimaraes]
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